O
SAGRADO ENSINAMENTO DE SRI RAMAKRISHNA
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131.
Alguns grandes seres, depois de alcançar o sétimo ou mais elevado
plano de samadhi e mergulharem
na consciência de Deus, descem voluntariamente desse cume espiritual
para o bem da humanidade. Eles retêm o ego do Conhecimento (o aham
de vidya), que é o mesmo que
o Ser Supremo. Mas, esse ego é apenas uma aparência. É como uma linha
traçada sobre a água.
132.
Da mesma forma que um pedaço de corda conserva sua forma após ser
queimado, mas não serve para amarrar, o mesmo acontece com o ego que
foi queimado no fogo do Supremo Conhecimento.
133.
Um homem sonha que alguém vem para cortá-lo em pedaços. Desperta
assustado e vê que não há ninguém no cômodo e que a porta está
fechada por dentro. No entanto, seu coração continua a palpitar com
violência por alguns minutos. Do mesmo modo, nosso abhimana,
ou sentido de “eu”, deixa atrás de si algum
impulso, mesmo depois de se afastar.
134.
Depois de alcançar o estado de samadhi,
alguns retêm o ego de servidor e adorador de Deus. Shankaracharya
conservou o “eu” de vidya
(Conhecimento) para ensinar aos demais.
135.
Hanuman teve a visão de Deus com forma e sem forma (sákara e nirakara). Mas
reteve o ego de servidor de Deus. Assim também foi o caso de Nárada,
Sanaka, Sarandana e Sanatkumara.
Um
devoto: “Nárada e outros foram unicamente bhaktas,
ou também gñanis?”.
O
Mestre: “Nárada e outros obtiveram o mais elevado Conhecimento (Brahmagñana).
Contudo seguiram, como as águas murmurantes dos arroios, falando e
cantando louvores a Deus. Isso indica que eles também conservaram o ego
do Conhecimento – um leve vestígio de individualidade, para
distinguir sua existência separada da Divindade, com o propósito de
ensinar as verdades salvadoras da religião”.
136.
Uma vez o Mestre perguntou, em um tom brincalhão, a um discípulo:
“Você nota em mim algo de abhimana
(sentido do ‘eu’)”?
O
discípulo: “Sim, um pouco. Mas esse pouco tem sido conservado com os
seguintes propósitos: primeiro, a preservação do corpo; segundo, para
cultivar a devoção a Deus; terceiro, para estar em companhia dos
devotos; e quarto, para ensinar aos demais. Ao mesmo tempo, deve ser
dito que esse pouco foi retido após muita oração, quero dizer, que o
estado natural da sua alma somente pode der descrito pela palavra samadhi.
Por isso que eu digo que o abhimana
que você possui é resultado da sua oração”.
O
Mestre: “Sim, mas não tem sido conservado por mim, senão por minha
Divina Mãe. Somente minha Divina Mãe concede o que é pedido na
oração”.
CAPÍTULO
V
A
ESCRAVIDÃO DO SABER LIVRESCO
ESTERILIDADE
DO MERO SABER LIVRESCO.
A
VAIDADE DE DISCUTIR.
A
VERDADEIRA FINALIDADE DO SABER.
Esterilidade
do mero saber livresco
137.
Uma vez Keshab Chandra Sem (homem religioso e grande orador) foi visitar
Sri Ramakrishna no templo de Dakshineswar e lhe perguntou: “Porque os
eruditos são tão
ignorantes no que diz respeito a vida espiritual, ainda que tenham lido
bibliotecas inteiras de obras religiosas?”. O Mestre respondeu: “Os
abutres voam muito alto, mas têm o olhar fixo na terra, buscando a
pútrida carniça. Do mesmo modo, a mente dos chamados eruditos está
apegada à luxúria e às riquezas e por essa razão não podem obter o
verdadeiro Conhecimento”.
138.
Somente aquele conhecimento que purifica a mente e o coração é o
verdadeiro conhecimento. Os demais são negação do Conhecimento.
O
SAGRADO ENSINAMENTO DE SRI RAMAKRISHNA
139.
Para que serve o mero saber que se aprende nos livros? Os pandits (eruditos) podem estar familiarizados com muitos textos e
versículos sagrados. Mas de que lhes vale repeti-los? Devem realizar,
em sua própria vida, as verdades contidas nas escrituras. Somente a
leitura não dá o Conhecimento ou a Salvação, se alguém está
apegado ao mundo e sente a atração da “luxúria e ouro”.
140.
Os chamados pandits (eruditos)
são grandes eloqüentes. Falam de Brahman, de Deus, do Absoluto, de
Gñana Yoga, de filosofia, de ontologia e coisas deste estilo. Mas são
muito poucos, entre eles, que realizaram as coisas das quais falam. São
secos e duros e não fazem nenhum bem.
141.
É muito fácil dizer: “Dó, re, mi, lá, si, dó”, mas é muito
difícil reproduzir essas notas em um instrumento. Da mesma forma é
fácil falar de religião, mas difícil é praticá-la.
142.
Um papagaio pode repetir o santo nome e Radha-Krishna, mas se cai nas
garras de um gato, em seguida lança seu grito natural: “kña, kña”.
Os homens de sabedoria mundana repetem, algumas vezes, o nome de Hari
(Deus) e fazem obras caritativas para ganhar renome, mas quando a
desventura, o pesar, a pobreza e a morte os surpreendem, então esquecem
de Deus e de todas as obras piedosas.
143.
Pode-se adquirir o amor por Deus pela leitura de livros sagrados? O
almanaque hindu prevê que tal e tal dia cairá vinte adas
(medida de capacidade) de chuva. Mas ao se espremer o almanaque, não
sai uma só gota! Da mesma forma os livros sagrados contêm muitas
palavras sábias, mas só por ler as mesmas uma pessoa se torna
religiosa. É preciso praticar as virtudes ensinadas nesses livros, para
se alcançar o amor a Deus!
144.
No reino de Deus, a razão, o intelecto e a erudição de nada servem.
Ali os mudos falam, os cegos vêem e os surdos ouvem.
145.
Tratar de explicar Deus depois de ter lido as escrituras, é como falar
a alguém sobre a cidade de Benares, depois de tê-la visto somente no
mapa.
146.
Não conseguirá se embriagar com cânhamo, mesmo que repita a
palavra “cânhamo” milhares de vezes. Primeiro consiga o cânhamo,
faça uma pasta fina, depois misture-o bem com água e beba-o; então,
realmente você se embriagará. De que serve gritar: “Oh Deus, oh
Deus!”. Pratica com regularidade a devoção e verás a Deus.
147.
O conhecimento de Deus não chega para uma pessoa que se sente orgulhosa
de sua erudição ou de suas riquezas. Se você disser a essa pessoa:
“Há um santo em certo lugar, quer ir vê-lo?”, com certeza ela lhe
dará desculpas e não irá, achando-se muito importante para visitar um
homem simples. Tal arrogância nasce da ignorância.
148.
Aqueles que leram algo sentem-se cheios de vaidade. Conversei com uma
pessoa sobre Deus e em seguida ela me disse: “Oh! Eu sei tudo isto”.
Eu lhe respondi: “Se uma pessoa visitou a cidade de Delhi, deve
vangloriar-se disso?”. Por acaso um homem nobre fica dizendo sempre
que é nobre?
149.
Grantha nem sempre significa escritura sagrada, pois freqüentemente
quer dizer granthi ou nó. Se
uma pessoa não ler as escrituras com o intenso desejo de conhecer a
verdade e de renunciar a toda vaidade, a mera leitura dos livros somente
a levará ao pedantismo, presunção, egoísmo, etc., que são como um
fardo que pesa sobre a mente do homem sujeito a outros tantos nós.
150.
A água seca se for jogada sobre um monte de cinzas. A vaidade é como
um monte de cinzas. A oração e a contemplação não produzem nenhum
afeto no coração que está cheio de vaidade.
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