O
SAGRADO
ENSINAMENTO DE SRI RAMAKRISHNA
6
109.
Pergunta: Quando serei livre? Resposta: Quando esse “eu” se
desvanecer. “Eu e meu” é ignorância. “Você e Seu” é
verdadeiro conhecimento. O verdadeiro devoto sempre diz: “Oh Senhor!
Você é o fazedor (Karta).
Você faz tudo. Tudo isso é Sua glória. Este lar e esta família são
Seus e não meus; eu só tenho direito de servi-Lo em tudo que o Senhor
ordenar”.
A
dificuldade de vencer o egotismo
110.
As vaidades comuns a todos os homens podem desaparecer gradualmente, mas
é difícil de morrer a vaidade de um religioso a respeito de sua
religiosidade.
111.
A taça onde foi guardada essência de alho conserva o odor, mesmo
depois de ser lavada várias vezes. O egotismo é um aspecto tão
obstinado da ignorância, que nunca desaparece de todo, por mais que se
tente livrar-se dele.
112.
Os dispépticos sabem muito bem que os picles são nocivos para eles,
mas tal é a força de associação, que só ao vê-los, dá água na
boca. Da mesma forma, ainda que se procure por todos os meios suprimir
as idéias de “eu e meu”, ao começar a atuar, o ego “imaturo”
prevalece.
113.
Há poucos que podem alcançar o estado de samadhi
e libertar-se de aham –
o sentimento de “eu”. Você pode raciocinar e discernir
incessantemente, contudo o “eu” volta umas mil vezes. Hoje você
pode cortar a árvore de pipal, mas amanhã verá que brotou novamente.
114.
Aqueles que buscam o nome e a fama, estão sob o domínio da ilusão.
Esquecem que tudo é ordenado pelo Grande Dispensador de todas as
coisas. O sábio sempre diz: “É você, oh Senhor! É Você!”. Mas o
ignorante diz: “Sou eu, sou eu”.
O
ego “maduro” e o ego “imaturo”
115.
Há dois tipos de ego, um “maduro” e outro “imaturo”. Nada é
meu, tudo o que vejo, sinto ou escuto e até este corpo, não são meus;
eu sou sempre livre, eterno e onisciente” – tais idéias surgem do
ego “maduro”. Por outro lado, o ego “imaturo” pensa: “Esta é
minha casa, estes são meus filhos, esta é minha esposa e este é meu
corpo”.
116.
O ego que afirma: “Sou o servidor de Deus”, é próprio do devoto.
É o ego de vidya
(Conhecimento) e se chama ego “maduro”.
117.
Qual é o “eu nocivo”? É o “eu” que diz: “Quê! Não me
conhecem? Tenho tanto dinheiro! Quem é tão rico quanto eu? Quem
ousaria superar-me?”.
118.
É daninho o “eu” que torna o homem mundano e apegado à riqueza. A
alma individual e o Ser Universal estão separados devido a esse
“eu” que se interpõe entre ambos. Ao se colocar uma vara na
superfície da água, esta parecerá dividida em duas seções. A vara
representa o aham (o
“eu”). Tire-a e verá que a água não estava dividida.
O
modo de vencer o ego
119.
Se analisarmos a palavra “eu” buscando suas origens, veremos que é
uma palavra que só denota egotismo. Mas é sumamente difícil
desprender-se desse “eu”. Por isso alguém deve dizer: “Você, ego
malvado, se não quiser caminhar de nenhum modo, fique como escravo de
Deus”. Ao ego que se considera como servidor de Deus, chama-se eu
“maduro”.
120.
Shakaracharya tinha um discípulo que tinha lhe servido durante longo
tempo, mas que não havia recebido nenhum ensinamento seu. Um dia ele
estava sentado sozinho. Shankara ouviu os passos de alguém que se
aproximava e perguntou: “Quem está aí?. “Sou eu”, respondeu o
discípulo. Então o acharya lhe disse: “Se esse ‘eu’ lhe é tão querido,
expanda-o até ao infinito (considere que o universo e seu próprio ser
são uma mesma coisa), ou renuncie a ele totalmente”.
O
SAGRADO ENSINAMENTO DE SRI RAMAKRISHNA
121.
Se você achar impossível suprimir a consciência do “eu”, então o
converta no “eu servidor”. Não há motivo para temer o ego que
pensa constantemente: “Sou o servidor de Deus; sou Seu devoto; sou Seu
filho”. Os doces causam dispepsia. Mas o açúcar cândi é uma
exceção. O “eu servidor”, o “eu” de um devoto e o “eu” de
um filho – cada um deles são como a linha traçada com uma vara na
superfície da água. Não dura muito tempo.
122.
Assim como o açúcar cândi não tem os efeitos nocivos dos outros
doces, o eu “maduro”, que se considera servidor e adorador de Deus,
não causa nenhuma das más conseqüências, que são características
do ego “imaturo”. Pelo contrário, conduz a Deus pelo caminho da
devoção ou bhakti-yoga.
123.
Que acontece com os sentimentos e impulsos do devoto que mantém a
atitude do “eu servidor”? Se sua convicção é sincera, então só
fica a forma, a aparência de seus antigos sentimentos e impulsos. Mesmo
retendo o “ego de servidor”, o “ego de devoto”, aquele que
realizou Deus, não pode fazer mal a ninguém. O ferrão da
individualidade desaparece. A espada se converte em ouro pelo toque da
pedra filosofal. Conserva sua antiga forma, mas já não pode ferir
ninguém.
124.
Se você é orgulhoso, orgulhe-se com a idéia de que é servidor de
Deus, de que é Seu filho. Os grandes homens têm a natureza da
criança. Se sentem como meninos diante de Deus e estão livres de toda
a arrogância. Sabem que toda a sua força vêm de Deus e a Deus
pertence.
125.
Uma pessoa que tem a convicção de que tudo o que faz é pela vontade
de Deus, sente-se como um
mero instrumento em Suas mãos. Está livre de todo vínculo nesta mesma
vida. “Você faz Sua obra, oh Senhor”; mas o homem diz: “Eu a
faço!”.
126.
Enquanto alguém diz: “Eu sei”, ou “Eu não sei”, considera-se a
si mesmo uma pessoa. Minha Divina Mãe diz: “Só quando Eu apago por
completo seu aham (eu), é
possível realizar em samadhi
o Absoluto Indiferenciado (Meu aspecto impessoal)”.
127.
Só depois de uma vigorosa luta com a própria natureza inferior e a
contínua prática de disciplinas espirituais, se alcança o estado de samadhi. Então o ego, com todo seu séqüito, se desvanece. Mas é
muito difícil alcançar o estado de samadhi.
O ego é muito persistente. Essa é a única causa pela qual nascemos
seguidamente neste mundo.
128.
Enquanto não se obtiver a visão divina, até que o toque da pedra
filosofal não transmute o vil metal em ouro, perdurará a ilusão que
nos faz pensar “eu sou fazedor”. E enquanto não cessar essa
ilusão, persistirá a idéia: “Eu fiz esta boa ação”, “eu fiz
aquela má ação”. Maya
consiste precisamente nesse sentido de distinção e é a causa da
continuidade deste mundo. Chega-se a Deus amparando-se na vidya maya – o aspecto do Poder Divino, no qual predomina sattva
(pureza e tranqüilidade) – que nos conduz pelo caminho reto. Só
cruza o oceano da maya
quem chega a se encontrar cara a cara com Deus. É realmente livre o
homem que, mesmo nesse estado corpóreo, sabe que Deus é o verdadeiro
agente e que ele, por si mesmo, carece de poder para fazer qualquer
coisa.
O
ego do homem de realização
129.
Nunca morrerá completamente o sentimento de “eu”?. As pétalas da
flor de lótus caem com o tempo, mas deixam para trás a sua marca.
Assim também o ego do homem desaparece inteiramente (quando realiza
Deus), mas ficam vestígios de sua existência anterior. Contudo, isso
não produz mal algum.
130.
É verdadeiramente sábio aquele que viu Deus. O homem que viu Deus
torna-se como uma criança. A criança, sem dúvida, parece ter uma
individualidade própria, separada. Mas essa individualidade não é
real, é mera aparência. O eu da criança em nada se parece com o eu do
adulto.
Página
7