O
SAGRADO ENSINAMENTO DE SRI RAMAKRISHNA
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81.
Quando a mente está livre de apego pelos objetos sensórios, se dirige
a Deus e permanece fixa nEle. Deste modo, a alma ligada se libera. Alma
ligada é aquela que toma um caminho que a afasta de Deus.
82.
Ao se extirpar a mente do apego, da luxúria e do dinheiro, que outra
coisa fica na alma? Só fica a felicidade e Brahman.
Como
vencer a sexualidade?
83.
Uma pessoa que vive em uma casa cheia de serpentes venenosas está
sempre alerta e vigilante. Do mesmo modo, os homens que vivem no mundo
devem estar em guarda contra as ciladas da luxúria e da cobiça.
84.
Quando se encontra uma serpente, é costume dizer (em Bengala): “Mãe
Manasa, rogo-lhe que se vá, mostrando sua cauda e escondendo sua
cabeça”. Mesmo assim é prudente manter-se afastado das influências
que podem excitar a sexualidade. É muito melhor evitar seu contato, do
que ganhar a experiência de uma queda.
85.
Um discípulo perguntou a Sri Ramakrishna como poderia vencer a
luxúria, pois apesar de dedicar-se diariamente à contemplação, de
vez em quando surgiam maus pensamentos em sua mente. O Mestre lhe disse:
“Havia um homem que tinha um cachorrinho mimado, costumava
acariciá-lo, levá-lo em seus braços, brincar com ele e até
beijá-lo. Ao ver seu tolo comportamento, um sábio lhe aconselhou que
não desse tanto afeto ao cachorro, pois este era, no final das contas,
um animal irracional e um belo dia poderia mordê-lo. O dono do cachorro
levou a sério a advertência. Tirou a animal de seus braços e resolveu
não mimá-lo, nem acariciá-lo no futuro. No princípio, o cachorro
não conseguia compreender a mudança de atitude de seu dono e corria,
como de costume, para que ele o alcançasse e o acariciasse. Mas sendo
desprezado várias vezes, desistiu por completo de importunar o dono. O
mesmo é o que acontece com você. O cachorro que por tanto tempo foi
apertado em seu peito, não o deixará tão facilmente, embora agora
você deseje se libertar dele. Mas não há nenhum mal nisso. Não mime
mais o cachorro e dê-lhe uma boa palmada cada vez que se aproximar para
ser acariciado e, com o correr do tempo, não o importunará mais”.
86.
“A luxúria e o ouro” infundem o pecado ao mundo inteiro. A mulher
ficará desarmada, se for olhada como manifestação da Divina Mãe. É
impossível ver Deus, até que não se extinga a paixão por “mulher e
o ouro”.
87.
Uma vez que pela intensa vairagya
(desapego) o homem alcança Deus, as desordenadas tentações da
concupiscência se desvanecem e ele se encontra fora de perigo até de
sua própria esposa. Se há dois ímãs desiguais a uma mesma distância
de um pedaço de ferro, qual dos dois será atraído com mais força?
Seguramente o ímã de maior tamanho. Certamente Deus é o ímã maior.
O que a mulher, que é o ímã menor, pode fazer contra Ele?
88.
As serpentes são répteis venenosos. Mordem se alguém quer
agarrá-las. Mas para o homem que aprendeu a arte de encantar serpentes
por meio de pó magnetizado, não é difícil agarrá-las. Pode até
brincar com elas, fazendo-as enroscar-se em seu pescoço. (De modo
semelhante, o homem de realização fica imunizado contra os perigos da
vida mundana).
89.
Uma vez um comerciante marwari
foi visitar Sri Ramakrishna e lhe ofereceu alguns milhares de rúpias.
Mas o Mestre recusou-se firmemente em aceitá-las dizendo: “Não tenho
nada que fazer com seu dinheiro, pois se aceitar, minha mente se
ocupará dele”. O comerciante, então, propôs fazer um depósito no
banco, em nome de um parente de Sri Ramakrishna e, dessa forma, poderia
utilizá-lo para atender o Mestre. Ao ouvir a proposta, o Mestre
respondeu: “Não, isso seria uma hipocrisia, pois em minha mente
surgiria a idéia de que o dinheiro depositado em nome de Fulano de Tal
é meu”. Mas o marwari
insistiu em sua proposta, citando o seguinte ditame de Sri Ramakrishna:
“Se a mente é como azeite, flutuará até mesmo sobre um oceano de
luxúria e ouro”.
Em
seguida o Mestre respondeu: “É certo, mas o azeite flutua sobre a
água por muito tempo, se puder. Do mesmo modo, embora a mente esteja
flutuando sobre o oceano de ‘mulher e ouro’, se esse contato ocorrer
de forma contínua e por um longo tempo, irá seguramente viciar a
mente, que exalará um mau cheiro”.
O
SAGRADO ENSINAMENTO DE SRI RAMAKRISHNA
A
riqueza e o aspirante espiritual
90.
Referindo-se ao fato de que a busca pela riqueza desvia o aspirante do
caminho de Deus, o Mestre disse, uma vez, a um jovem discípulo: “Como
um homem que vive no mundo, você aceitou um emprego remunerado. Porém
você trabalha para sustentar sua mãe. Se não fosse assim, eu lhe
diria: Que vergonha! Que vergonha”. Repetiu essas palavras várias
vezes e logo disse: “Sirva somente ao Senhor”.
91.
Referendo-se à degradação que traz junto consigo o serviço que é
realizado em busca do dinheiro, a Mestre disse a um jovem discípulo:
“Noto uma grande mudança em seu rosto. Parece coberto por um sombrio
véu. Isto se deve a seu trabalho no escritório. Você tem contas a
pagar e centenas de outros assuntos para atender”.
92.
O dinheiro é um upadhi
(ligação) muito forte. Quando um homem enriquece, muda por completo.
Um brahmin tranqüilo e
humilde costumava vir aqui (a Dakshineswar) de vez em quando. Depois de
certo tempo deixou de vir, sem que soubéssemos o que lhe havia
acontecido. Um dia, íamos de barco a Konnagor. Ao descer do barco vimos
o brahmin sentado na margem do
rio Gangá, em companhia de pessoas de alto padrão social, tomando ar
puro do rio. Quando me viu, se aproximou e em tom de condescendência me
disse: “Olá, Takur! Como vai você?”. Em seguida notei a mudança
no tom de sua voz e disse a Hriday, que estava comigo: “Lhe asseguro
que este homem deve ter juntado algum dinheiro. Não notou a grande
mudança que sofreu?”. Hriday começou a rir.
93.
O dinheiro só pode lhe dar o pão. Não o considere como seu único
ideal.
94.
Há pessoas que se vangloriam de sua riqueza e poder, de seu nome e fama
e de seu elevado padrão social. Mas todas estas coisas duram muito
pouco tempo. Nenhuma delas perdura depois da morte.
95.
Há duas ocasiões em que o Senhor sorri. Primeiro, quando um médico se
aproxima de um paciente que está gravemente doente e a ponto de morrer
e diz à sua mãe: “Não há nenhum motivo para que a senhora se
angustie tanto. Tomo sobre mim a responsabilidade de salvar seu
filho”. Também sorri quando dois irmãos dividem uma propriedade com
uma fita métrica e dizem: “Esse lado é meu e esse lado é seu”.
96.
Não há nada para se orgulhar, na riqueza. Se você diz que é rico,
há pessoas mais e mais ricas, no entanto e comparando-se a eles, você
pode parecer como um mero mendigo. Ao anoitecer, quando saem os
pirilampos, eles podem pensar: “Estamos iluminando o mundo”. Mas
quando as estrelas começam a cintilar, o orgulho dos pirilampos se
desvanece. Agora são as estrelas que começam a pensar: “Somos nós
que iluminamos o universo”. Mas depois de um tempo, a lua ascende ao
céu e dessa vez se enche de vaidade, pensa que ilumina e dá beleza ao
mundo. Mas quando a aurora proclama a ascensão do sol, no oriente, como
fica, então, a lua! Se aqueles que se consideram ricos refletirem sobre
estes fenômenos da natureza, deixarão de vangloriar-se de seu poder e
riquezas.
97.
A água flui constantemente por debaixo das pontes, sem estancar-se.
Assim também o dinheiro que passa pelas mãos do homem livre e nunca é
acumulado por ele.
98.
É verdadeiramente sábio o homem para quem o dinheiro é somente um
servidor. Mas, por outro lado, aqueles que não conhecem o uso
apropriado do dinheiro, não merecem ser chamados de homens.
O
SAGRADO ENSINAMENTO DE SRI RAMAKRISHNA
CAPÍTULO
IV
MAYA
COMO AHAMKARA OU EGOTISMO
OS
MALES DO EGOTISMO.
A
DIFICULDADE DE VENCER O EGOTISMO.
O
EGO “MADURO” E O EGO “IMATURO”.
O
MODO DE VENCER O EGO.
O
EGO DO HOMEM DE REALIZAÇÃO.
Os
males do egotismo.
99.
O sol ilumina e dá calor ao mundo inteiro, mas não pode fazê-lo
quando as nuvens interceptam seus raios. De modo semelhante, quando o
egotismo cobre o coração, Deus não pode iluminá-lo.
100.
O egotismo é como uma nuvem que oculta Deus de nossa vista. Se pela
graça do guru (mestre
espiritual) a nuvem se dissipa, percebemos Deus em toda Sua glória.
101.
Pergunta: Senhor, por que estamos ligados deste modo? Por que não
podemos ver Deus?. Resposta: O ego do homem em si é a maya,
é o véu que oculta a luz. Realmente, com a morte do “eu” cessa
toda a aflição. Se pela graça do Senhor o homem alcança o
conhecimento de que ele não é o fazedor, então se converte em um jivanmukta
(livre nesta mesma vida) e transcende todo o temor.
102.
Se eu colocar esta toalha diante de mim, você já não poderá me ver,
embora eu esteja tão perto de você como a um instante. Do mesmo modo,
Deus está mais perto de você do que qualquer outra coisa, mas devido
à cortina do egotismo, você não pode vê-Lo.
103.
Enquanto persistir o egotismo, não será possível obter o conhecimento
de Ser (gñana), nem a
Liberação (mukti) e não
haverá a cessação de nascimento e morte.
104.
Se em uma panela com água for colocado arroz, legumes e batatas, você
poderá tocá-los, enquanto o fogo não estiver quente. Algo semelhante
acontece com o jiva (ser
individual). Este corpo é a panela. A riqueza, a erudição, a
linhagem, o poder, a posição social, são como o arroz, os legumes e
as batatas. Pelo egotismo é que o jiva se torna tão quente (arrogante).
105.
A água da chuva não fica nos lugares altos, ela corre para lugares
mais baixos. De modo semelhante, a misericórdia de Deus fica no
coração dos humildes, mas escorre do coração dos frívolos e
arrogantes.
106.
O egotismo é tão danoso, que enquanto não for arrancado pela raiz,
não haverá salvação para o homem. Olhe quantas penúrias sofre um
terneiro por causa do egotismo. Assim que nasce, grita: “Hamhai” –
Eu sou, eu sou. Como resultado do egotismo, cresce e se for boi, é o
colocado no arado ou carrega pesado carros; se for vaca, é colocada
atada a um poste e até é morta para se comer sua carne. Mas apesar de
tantos castigos, o animal não perde seu egotismo, pois os tambores que
são feitos de seu couro produzem o som “Ham – Eu. Até que se
façam cordas de suas vísceras, a pobre criatura não aprende
humildade. Só então os intestinos do animal repetem “Tu hai” –
você é. O “eu” deve desaparecer e dar lugar ao “você”; mas
isto não é possível até que o homem não desperte espiritualmente.
107.
A liberdade chegará quando seu egotismo desaparecer e você mergulhar
na Divindade.
108.
Quando o homem obtém a salvação? Somente quando seu egotismo morrer.
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