O
SAGRADO ENSINAMENTO DE SRI RAMAKRISHNA
4
58.
Se Deus é onipresente, por que não O vemos? Olhando um tanque
totalmente coberto de musgo e capim, seguramente você não verá a
água. Se você deseja ver a água, primeiro afaste o musgo que há na
superfície. Tendo os olhos cobertos pelo véu de maya,
você se queixa que não poder ver Deus. Se você quer ver Deus afaste
de seus olhos o véu de maya.
59.
Como as nuvens cobrem o sol, assim a
maya oculta Deus. Quando as nuvens se dissipam, o sol aparece
novamente. Quando se afasta a maya,
Deus se faz presente.
60.
O cisne mitológico pode separar o leite da água, na qual está
diluído e beber somente o leite, deixando a água. Deus está
intimamente mesclado com maya.
O homem comum não pode vê-Lo separado de maya.
Somente os Paramahansas podem
desprezar maya e chegar a Deus
em Sua pureza.
61.
Se você puder descobrir a natureza de
maya, a ilusão universal, ela desaparecerá de você, como foge o
ladrão quando é descoberto.
Maya
como poder que libera (Vidya)
62.
Em Deus, existem ambas as coisas: vidya-maya
e avidya-maya. A vidya-maya conduz o homem para Deus. Por outro lado, a avidya-maya
o afasta do caminho do Senhor. O Conhecimento, a devoção, o desapego,
a compaixão, são expressões de vidya-maya;
com sua ajuda, pode-se alcançar Deus.
63.
Maya é que revela Brahman.
Sem maya, quem poderia
conhecer Deus? Sem conhecer a Shakti,
que é o poder manifestado do Senhor, não há maneira de conhecer Deus.
64.
É por causa de maya que tais
coisas, como a realização do Supremo Conhecimento e a Beatitude final,
são possíveis para nós. De outro modo, quem poderia sequer sonhar com
isso? Somente em maya surgem a
dualidade e relatividade. Mais além de maya
não existem tais coisas como o que goza e o objeto do gozo.
65.
A gata pode pegar os gatinhos com os dentes sem causar-lhes dano. Mas se
agarra um rato, o mata. Do mesmo modo, maya
nunca mata um devoto, embora destrua os demais.
CAPÍTULO
III
MAYA
COMO “LUXÚRIA E OURO” 1
A
ESCRAVIDÃO DO SEXO.
O
SEXO E O PROGRESSO ESPIRITUAL.
COMO
VENCER A SEXUALIDADE?
A
RIQUEZA E O ASPIRANTE ESPIRITUAL.
A
escravidão do sexo
66.
Que é maya? É a luxúria que
obstaculiza o progresso espiritual.
1. Em todas as partes onde se faz menção a
“mulher e ouro”, deve-se entender que o Mestre fazia Sua
advertência aos homens que aspiravam a vida espiritual, já que Sua
prevenção com as mulheres era determinada no sentido contrário, ou
seja, evitar de cair na armadilha do “homem e ouro”
O propósito era puramente psicológico, já que
por “mulher” queria sinalizar “sexo”, “carnal” e por
“ouro”, o afã de acumular riqueza e a cobiça que move toda a
idéia de posse de objetos que nos atraem ao mundo.
Acreditamos que isto esclarecerá ao leitor não
familiarizado com o ensinamento do Mestre, Sua advertência contra “a
mulher”, já que verá, por outro lado, que Sua atitude foi sempre de
profundo respeito para com a mulher, sobressaída na adoração.
Considerava que cada mulher, boa ou má, era a manifestação de Sua bem
amada Mãe do Universo e queria que Seus devotos cultivassem a mesma
atitude.
67.
É a maya ou a meye (mulher, sexo) que devora tudo?
68.
As almas enredadas na mundanidade não podem resistir às tentações da
“luxúria e do ouro” e dirigir suas mentes a Deus, embora essas
coisas lhes tragam milhares de humilhações.
O
SAGRADO ENSINAMENTO DE SRI RAMAKRISHNA
69.
Tenha cuidado, oh homem que vive no mundo! Não confie demais na mulher,
pois ela estabelece seu predomínio sobre você de maneira bastante
insidiosa!
70.
Você não pode viver em um quarto com fuligem e evitar que sua pele se
manche de vez em quando, apesar das precauções. Do mesmo modo, se um
homem vive em companhia das mulheres, algum desejo carnal, por mais leve
que seja, surgirá nele, mesmo sendo muito circunspeto e tenha domínio
sobre seus sentidos.
71.
Ao se colocar jarros com água gelada e garrafas que com saborosos
molhos perto de um homem que tenha febre alta e delira, acredita que lhe
será possível, sedento e inquieto como está, resistir à tentação
de beber a água e provar os molhos? Do mesmo modo o homem mundano que
sofre a febre alta da luxúria e está sedento de prazeres sensórios,
não pode resistir às tentações, quando se vê colocado entre os
encantos da beleza, por um lado, e as atrações das riquezas, de outro.
Seguramente se desviará do caminho da devoção.
72.
Uma vez um cavaleiro marwari
(comerciante de Marwarm, província do centro da Índia) foi ver Sri
Ramakrishna e lhe perguntou: “Senhor, por que não vejo Deus, mesmo
tendo renunciado a tudo?”. O Mestre: “Você vê esses sacos de couro
em que guarda o azeite? Se um desses sacos se esvazia, um pouco de
azeite fica aderido à suas paredes e é aí que conserva o odor do
azeite. Do mesmo modo, mesmo não havendo em você vestígios de
mundanidade, o odor persiste”.
73.
“A luxúria e o ouro”, lembre-se, mantém o homem imerso na
mundanidade e afastado de Deus. É estranho que o homem só tenha
louvores para com sua própria mulher, seja ela boa, má ou indiferente.
74.
Como um macaco sacrifica sua vida aos pés de um caçador, assim o homem
sacrifica a sua aos pés de uma mulher formosa.
O
sexo e o progresso espiritual
75.
Aqueles que anseiam por realizar Deus e progredir em suas práticas
devocionais, devem cuidar-se particularmente contra as armadilhas da
luxúria e da riqueza. Do contrário, nunca alcançarão a perfeição.
76.
Nityananda perguntou a Sri Chaitanya: “Por que meus ensinamentos sobre
o amor divino não produzem resultados tangíveis na mente dos
homens?”. Sri Chaitanya respondeu: “Devido a sua associação com as
mulheres é que os homens não podem reter os ensinamentos elevados.
Escute, irmão Nityananda, não há salvação para as pessoas de mente
mundana”.
77.
Quando o indicador se separa da agulha que sinaliza o fiel da balança?
Quando um dos pratos tem mais peso que o outro. Do mesmo modo, a mente
de afasta de Deus e se desequilibra pela pressão que exerce a luxúria
e a cobiça sobre ela.
78.
Se há um pequeno orifício no fundo de uma jarra, pouco a pouco sai
toda a água que ela contém. Do mesmo modo, se restar no aspirante o
mais ligeiro gosto pelo mundano, todos os esforços acabam em nada.
79.
Trate de alcançar o domínio absoluto sobre o instinto sexual. Se
alguém o alcança, se produz uma troca fisiológica pelo
desenvolvimento de um nervo chamado medha,
que já existe em forma rudimentar no corpo e cuja função é
transmutar a energia inferior em energia superior. Obtém-se o
conhecimento do Ser superior depois do desenvolvimento do nervo medha.
80.
A mente apegada à “luxúria e cobiça” é como a noz do betel
verde. Enquanto está verde, o caroço permanece preso à casca, mas
quando seca, separa-se da casca e se o sacudirmos, move-se lá dentro.
Assim também, quando a atração pela “luxúria e cobiça” seca, a
alma é vista como algo completamente diferente do corpo.
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