Prefácio à Quinta Edição
D |
urante sua
estadia em Calcutá in 1897, Swami Vivekananda costumava ficar a maior parte do
tempo no Math, a sede da Ramakrishna Mission, localizada
então em Alambazar. Durante esse período, muitos jovens, que tinham se preparado previamente, durante
algum tempo, se reuniram em volta dele e tomaram os votos de Brahmacharya e
Sannyasa, e o Swamiji, começou a
treiná-los para o futuro trabalho, realizando classes sobre o Gita e sobre a
Vedanta, e iniciando-os na prática da meditação. Em uma dessas classes ele
falava eloqüentemente sobre o Gita na língua Bengali . O primeiro capítulo, Pensamentos Sobre o Gita , é uma tradução do sumário do
discurso da forma como era registado no
diário do Math. As passagens anexadas a esse capítulo, e aquelas encontradas no fim do último
capítulo são de diferentes volumes do Complete Works. Os quatro capítulos seguintes são
reproduzidos de Vedanta and the West.
Estes foram originalmente realizados em São Francisco in 1900, e registrados em taquigrafia por Ida Ansell
. Muito tempo depois, alguns meses antes de falecer em 31 de
janeiro de 955, ela transcreveu essas
anotações para publicação . “No interesse da absoluta fidelidade, no momento da
transcrição, nenhuma alteração foi feita nas anotações, às vezes
incompletas, que de Ida Ansell foi capaz
de fazer. Quando algumas omissões ocorreram, devido a uma certa falta de
clareza, na versão impressa foram indicadas por três pontos. Qualquer material adicionado com objetivo de
esclarecimento, foi colocado entre colchetes.”" (Editor, Vedanta and the
West). Apesar dessas falhas, os discursos são suficientemente atraentes e inspiradores para serem aqui
apresentados. O último capítulo é
baseado em uma conferência que Swamiji apresentou em um encontro da Ramakrishna
Mission que aconteceu em 20 de Março de 1898, na 57 Ramkanta Bose Street, Calcutá.
O Editor
Fevereiro
de 1963
Pensamentos
Sobre O Gita
O |
livro
conhecido como o Gita é uma parte do Mahabharata. Para compreender o Gita
corretamente é importante o conhecimento de algumas coisas. Primeiro, se ele formou uma parte do
Mahabharata, isto é, se a autoria atribuída ao Veda-Vyasa era verdadeira, ou se ele foi meramente
introduzido dentro do grande épico; segundo, se havia uma personalidade
histórica com o nome de Krishna; terceiro; se a grande guerra de Kurukshetra,
como mencionada no Gita, verdadeiramente
aconteceu; e quatro, se Arjuna e os outros foram personagens históricos verdadeiros.
Em
primeiro lugar vejamos quais são as bases para tal questionamento. Sabemos que havia muitos com o nome de
Veda-Vyasa; e entre eles qual foi o verdadeiro autor do Gita - o Badarayana
Vyasa ou o Dvaipayana Vyasa? “Vyasa”era
apenas um título. Qualquer um que compusesse uma nova Purana era conhecido pelo
nome de Vyasa, como a palavra
Vikramaditya, que era também um nome comum.
Outro ponto é que o livro do Gita
não foi muito conhecido pelas pessoas em geral, antes que Shankaracharya o
tornasse famoso escrevendo um grande comentário sobre ele. Muito antes disso, era conhecido, de acordo
com muitos, o comentário sobre ele de autoria de Bodhayana. Se isso pudesse ser
provado, seria de grande importância, sem dúvida, para estabelecer a
antigüidade do Gita e a autoria de Vyasa. Mas o Bodhayana-Bhashya nos Vedanta-Sutras-
dos quais Ramanuja compilou seu
Shri-Bhashya, e do qual Shankaracharya menciona e até cita certas partes em seu próprio comentário, e
que foi tão extensamente discutido por Swami Dayananda - nem uma cópia sequer
daquele Bodhayana-Bhashya eu pude
encontrar quando viajava por toda Índia.
Dizem que mesmo Ramanuja compilou seu Bhashya de um manuscrito já comido
por traças que por acaso ele encontrou.
Quando até mesmo esse grande
Bodhayana-Bhashya nos Vedanta-Sutras está tão envolvido na escuridão da
incerteza, é simplesmente inútil tentar estabelecer a existência do
Bodhayana-Bhashya no Gita. Alguns concluem que Shankaracharya foi o autor do
Gita, e que foi ele que forçou a sua introdução no corpo do Mahabharata.
Para
o segundo ponto em questão, muita dúvida existe quanto à personalidade de
Krishna. Em um certo local do Chhandogya Upanishad encontramos menção à
Krishna, o filho de Devaki, que recebeu
instrução espiritual de um Ghora, um Yogi. No Mahabharata, Krishna é o rei de
Dwaraka; e no Vishnu Purana encontramos a
descrição de Krishna brincando com as Gopis.
Novamente no Bhagavata, a
narrativa de seu Rasalila é cuidadosamente detalhada. Nos tempos muito antigos em nosso país,
estava em voga um Utsava (festival) chamado Madanotsava (celebração em honra
de Cupido). Essa mesma coisa foi transformada em
Dola e colocada sobre os ombros de Krishna.
Quem pode ser tão corajoso a ponto de afirmar que o Rasalila e outras
coisas ligadas a ele não foram imputadas a ele de forma semelhante? Nos tempos
antigos, havia uma tendência muito pequena em nosso país de procurar a verdade
pela pesquisa histórica. Logo qualquer
um podia dizer o que achava melhor sem
comprovar com fatos e evidências. Outra coisa: naqueles tempos antigos
havia nos homens muito pouco desejo por nome e fama . Então freqüentemente acontecia de um homem
escrever um livro e colocar como autor o nome de seu Guru ou qualquer outra
pessoa. Em tais casos é muito difícil para o investigador de fatos históricos
chegar à verdade. Nos tempos antigos, eles não tinham nenhum conhecimento de
geografia e a imaginação corria solta. Encontramos então criações fantásticas do cérebro, como
oceano doce, oceano de leite , oceano de manteiga clarificada, oceano de
yogurt, etc.! Nos Puranas, encontramos alguém vivendo dez mil anos, outro
vivendo cem mil anos! Mas os Vedas dizem, - “O homem vive cem anos.” A quem
devemos seguir aqui? Logo chegar a uma correta conclusão no caso de Krishna é
bem impossível.
É
da natureza humana construir ao redor do caráter real de um grande homem, todo
tipo de atributos imaginários e super-humanos . Em relação a Krishna , o mesmo deve ter acontecido , mas
parece muito provável que ele era um rei . Eu digo, muito provável, porque nos
tempos antigos, em todo nosso país, eram principalmente os reis que se
empenhavam em pregar o
Brahma-jnana. Outro ponto a ser
especialmente notado aqui é que, quem quer que tenha sido o autor do Gita, encontramos os mesmos ensinamentos no
Mahabharata inteiro. A partir disso,
podemos seguramente concluir que na
época do Mahabharata, algum grande homem surgiu e pregou o Brahma-jnana, nessa
nova roupagem ,para a sociedade existente.
Outro fato que chega à nosso conhecimento é que nos velhos tempos, pelo fato de surgirem
seitas umas depois das outras, também apareciam e entravam em uso novas escrituras
umas depois das outras. Acontecia também que num período de tempo, tanto a
escritura como a seita desapareciam, ou a seita deixava de existir mas sua
escritura permanecia. De forma
semelhante, é bem provável que o Gita
fosse a escritura de uma seita desse tipo, que tinha coletado suas elevadas e
nobres idéias nesse livro sagrado.
Para
o terceiro ponto, relativo ao assunto da guerra de Kurukshetra , nenhuma
evidência especial que a apóie pode ser apresentada. Mas não existe nenhuma
dúvida de que houve uma guerra entre os Kurus e os Panchalas. Uma outra coisa:
como poderia ter havido tantã discussão sobre Jnana, Bhakti, e Yoga no campo de
batalha, lugar onde um grande exército
estava em formação pronto para lutar, esperando apenas pelo último sinal? E havia algum taquígrafo ali presente, para
anotar cada palavra trocada entre Krishna e Arjuna, no meio da confusão do
campo de batalha? De acordo com alguns, essa guerra de Kurukshetra é apenas
uma alegoria. Quando resumimos seu significado esotérico,
significa a guerra que está constantemente acontecendo no interior do homem
entre as tendências do bem e do mal.
Esse significado também pode não
ser irracional.
Sobre
o quarto ponto, existe base suficiente para a dúvida à respeito da veracidade
histórica da existência de Arjuna e os outros , e é essa: Shatapatha Brahmana é
um livro muito antigo. Em algumas partes dele são mencionados os nomes daqueles que foram os atores do Ashvamedha Yajna, mas
nessas partes não existe sequer uma menção aos nomes de Arjuna e dos outros,
apesar de falar sobre Janamejaya, o
filho de Parikshit, que era neto de Arjuna.
Ainda no Mahabharata e em outros livros ‘’é declarado que Yudhisthira,
Arjuna, e os outros celebraram o sacrifício de Ashvamedha .
Uma
coisa deveria ser especialmente lembrada aqui:
não existe ligação entre essas pesquisas históricas e o nosso real
objetivo, que é o conhecimento que leva
à aquisição do dharma.
Mesmo
se a veracidade histórica da coisa seja hoje comprovada como absolutamente falsa, isso não provocará
nenhuma perda para nós. Você pode perguntar,“Então qual a utilidade de tantã
pesquisa histórica?” . Ela tem a sua utilidade porque temos que chegar à
verdade; não adianta nada permanecermos limitados por idéias erradas nascidas
da ignorância. Neste país as pessoas se preocupam muito pouco com a importância dessas pesquisas. Muitas das seitas acreditam que para pregar
uma boa coisa, que pode ser benéfica para muitos, não há nenhum prejuízo em
dizer uma coisa que não seja verdadeira, se isso ajudar nessa pregação, ou em
outras palavras, o fim justifica os meios. Encontramos então muitos dos nossos
Tantras começando com, “Mahadeva disse para Pavati “. Mas nosso dever
deveria
ser convencer a nós mesmos da verdade, a acreditar apenas na
verdade. O poder da superstição, ou fé
nas antigas tradições, é tal que os homens sem ter nenhuma dúvida quanto à sua
verdade, são mantidos por ela ,atados pelos pés e pelas mãos,de tal maneira que
mesmo Jesus Cristo, Mohammed, e outros grandes homens acreditavam em muitas
dessas superstições e não podiam se livrar delas. Você deve manter os seus
olhos sempre fixos apenas na verdade e se afastar completamente das superstições.
Agora
cabe a nós enxergar o que existe no Gita. Se estudarmos os Upanishads, perceberemos ao passar os olhos pelos labirintos de muitos assuntos
irrelevantes, a súbita introdução da discussão de uma grande verdade, como se
no meio de uma grande floresta selvagem,
um viajante inesperadamente cruzasse com uma rosa especial e
maravilhosa, com suas folhas, raízes e espinhos, enroscados. Comparado com isso o Gita é como essas
verdade arranjadas juntas em lugares adequados,
como uma fina guirlanda ou um buquê de flores escolhidas. Os Upanishads lidam de forma elaborada com a
Shraddha (fé) em muitas partes, mas mal
mencionam Bhakti. No Gita, por outro lado , o assunto do Bhakti não é
apenas colocado muitas e muitas vezes, mas nele, o espírito inicial do Bhakti atingiu seu clímax.
Vejamos
agora alguns dos principais pontos discutidos no Gita. Onde reside a originalidade do Gita que o
distingue de todas as escrituras precedentes?
É isso: a pesar de que antes do seu advento o Yoga, Jnana, Bhakti, etc.,
tivessem seus fortes adeptos, eles todos brigavam entre si, cada um deles reclamando superioridade para o
caminho escolhido; nunca ninguém tentou procurar a reconciliação entre esses
diferentes caminhos. Foi o autor do Gita quem pela primeira vez tentou
harmonizá-los. Ele tomou o melhor do que todas as seitas existentes tinham a
oferecer e teceu tudo na trama do Gita.
Mas mesmo onde Krishna falhou em demonstrar uma completa reconciliação
(Samanvaya) entre essas seitas beligerantes, isso foi conseguido por
Ramakrishna Paramahamsa nesse século dezenove
O
próximo é, Nishkama Karma trabalhar sem desejo ou apego . as pessoas entendem o significado disso de
várias maneiras. Alguns dizem que o
significado de ser desapegado é de tornar-se
sem propósito. Se esse fosse o significado verdadeiro, então os brutos
sem coração e os muros seriam os melhores expoentes da execução do Nishkama
Karma. Muitos outros, novamente , dão o
exemplo de Janaka , e desejam ser igualmente reconhecidos como
super-mestres na prática do Nishkama Karma ! Janaka não conseguiu essa
distinção apenas por trazer filhos ao mundo, mas todas essas pessoas querem ser janakas, com
a única qualificação de serem pais de uma porção de crianças! Não! O
verdadeiro Nishkama Karmi (aquele que executa o trabalho sem desejo) não é nem parecido com um bruto nem um
inerte, nem é sem coração. Ele não é Tamásico,
mas feito do puro Sattva. Seu coração
é tão cheio de amor e simpatia que ele consegue abraçar o mundo inteiro com seu
amor. O mundo em sua extensão não pode
em geral compreender esse seu amor e
simpatia tão envolventes.
1- Janaka -era o nome de um rei iluminado
que alcançou a liberação enquanto ainda governava o seu reino .a palavra também
significa “Pai”.
2- Tamásico -Sob a influência da qualidade
de Tamas, ignorância, inércia, inação.
3- Sattva - Iluminação, calma, etc.
A
reconciliação dos diversos caminhos do Dharma e trabalhar sem desejo ou apego -
essas são as duas características especiais do Gita.
Vamos
ler agora um pouco do segundo capítulo
“Sanjaya
disse:
“
Pare ele que estava então tomado pela piedade e angustiado e cujos olhos
estavam embaçados pelas lágrimas, Madhusudana disse essas palavra:
“O
Senhor Abençoado disse:
“Esse
desespero e auto piedade em um momento de crise é ruim e desmerece você,Arjuna.
Como você foi cair nesse estado tão distante
do caminho da liberação?
“Não
se entregue a essa fraqueza O filho de Pritha! Levante-se com o coração
corajoso, O destruidor de teus inimigos.
Como foi linda e poeticamente pintada a real
posição de Arjuna no início do Shlokas ! Então Shri Krishna aconselha
Arjuna. E porque ele está incitando Arjuna a lutar ? Porque a falta de
inclinação de Arjuna para lutar não vinha de uma insuperável predominância do
puro Sattva, Guna (qualidade); era Tamas que provocava essa total falta de vontade. A natureza do homem do Sattva Guna é que ele
é igualmente calmo em todas as situações da vida - sejam elas de prosperidade
ou adversidade. Mas Arjuna estava amedrontado, ele estava completamente tomado pela piedade. Que ele
tinha o instinto e a inclinação para lutar está provado pelo simples fato, de
que ele foi para o campo de batalha sem nenhum outro propósito além desse.
Freqüentemente em nossas vidas, esse
tipo de coisas parece acontecer também. Muitas pessoas acham que são Sattvika
por natureza, mas elas não são realmente
nada além de Tamasika. Muitas vivendo de
forma impura vêem a si mesmas como Paramahamsas! Porque? Porque os Shastras (escrituras) dizem que os Paramahamsas vivem como inertes,
ou como loucos ou como espíritos impuros. Paramahamsas são comparados às
crianças, mas aqui deve ser entendido que a comparação é unilateral. O Paramahamsa e a criança não são um e não -diferentes
.
1-Paramahamsas- Monges de uma ordem elevada
Eles apenas parecem
semelhantes, os dois como polos extremos
, como eram. Um alcançou o estado
além jnana, e o outro não conseguiu
sequer uma indicação de jnana. Tanto as mais rápidas quanto as mais baixas
vibrações de luz, estão ambas além do alcance de nossa visão comum ; mas no
primeiro há um intenso calor , e no
outro pode-se dizer quase sem nenhum calor . Então está com as qualidades opostas de Sattva e Tamas. Sem
dúvida eles parecem em alguns aspectos ser o mesmo , mas há um mundo de
diferenças entre eles. O Tamoguna gosta
muito de se vestir com as roupagem de
Sattva. Aqui, em Arjuna, o poderoso guerreiro, ele apareceu sob o disfarce de
Daya (piedade)!
Para
remover essa ilusão que se apoderou de Arjuna, o que o Bhagava (Senhor) disse? Assim como eu sempre prego, você não deve
depreciar um homem chamando-o de pecador, mas sim, deve chamar sua atenção para
o onipotente poder que está dentro dele, dessa mesma forma o Bhagavan fala com
Arjuna “ Isso não combina com você. Você
é aquele Atman, imperecível, além de todo mal. Tendo esquecido sua real
natureza, você se precipita considerando a si mesmo como um pecador, como
alguém que está com o corpo tomado por doenças e angústias mentais - você se
precipitou nisso -isso não combina com você. Assim fala o Bhagavan: não se
abandone à covardia, O filho de Pritha.
No mundo não existe nem pecado nem miséria,
nem doenças nem angústia ; se existe algo neste mundo que pode ser
chamado de pecado, isso é o “medo”-
saiba que qualquer trabalho que faça surgir o poder latente em você, é Punya
(virtude); e aquilo que torna seu corpo e sua mente fracos é verdadeiramente
pecado Livre-se dessa fraqueza de
coração. Você é um herói, um Vira; “Isso não é próprio de você.” Se vocês, meus
filhos puderem proclamar essa mensagem para o mundo, então toda doença,
angústia, pecado e tristeza desaparecerá da face da terra em três dias. Não haverá mais lugar para todas essas idéias
de fraqueza. Agora está em todos os
lugares - essa corrente de vibração do medo. Reverta a corrente ;traga a
vibração oposta e perceba a mágica transformação! Você é onipotente- vai, vai para a boca do
canhão, não tenha medo. Não odeie nem o mais abjeto pecador, não olhe para o
exterior dele. Volte seu olhar para o interior, onde reside o Paramatman (Supremo Self). Proclame em voz
alta ao mundo inteiro, “Não existe pecado em você; não existe miséria em você;
você é um reservatório de onipotente poder.” Levante-se , acorde e manifeste
sua divindade interior!
Se alguém ler esse Shloka - consegue todos
os méritos de ler o Gita inteiro; pois nesse Shloka está incorporada a completa
mensagem do Gita.
(Complete Works of Swami Vivekananda Vol IV
102-10)
Se
existe alguma coisa no Gita da qual eu
goste mais são esses dois versos,
surgindo fortes como a própria substância, a própria essência dos ensinamentos de Krishna -“Aquele que vê o
Senhor Supremo habitando igualmente em todos os seres, o Imperecível em coisas
que perecem, esse vê realmente. Pois
vendo o Senhor como o mesmo, presente em todos os lugares, ele não destrói o
Self pelo eu, e então ele caminha para o
objetivo mais elevado. (Gita, XIII.
27-28)
(Complete Works Vol. III. 193-94)
Krishna,
“Senhor das Almas", conversa com Arjuna, ou Gudakesha, “o senhor do sono”
(aquele que conquistou o sono). O “campo da virtude (o campo de batalha) é este
mundo; os cinco irmãos (representando a retidão) lutam com outros cem irmãos
(tudo o que amamos e que temos que lutar contra); o irmão mais heróico, Arjuna
(a alma desperta), é o general. Temos que lutar contra todos os prazeres dos
sentidos, as coisas pelas quais somos mais apegados, para matá-las. Temos que enfrentar sozinhos; nós somos
Brahman, todas as outras idéias devem se fundir com essa.
Krishna
fez tudo que tinha que fazer, mas sem apego; ele estava nesse mundo, mas não
pertencia a ele. “Faça todo trabalho, mas sem apego; trabalhe apenas pelo
trabalho, nunca para si mesmo.“
(Complete Works Vol.VII. 19),
Os
ensinamentos de Krishna, da forma como
são explicados pelo Gita, são os maiores
que o mundo jamais conheceu . Aquele
que escreveu esse maravilhoso poema foi uma dessas raras almas cujas vidas
trazem uma onda de regeneração para o mundo. A raça humana nunca mais verá um cérebro como o
daquele que escreveu o Gita.
(Complete Works Vol.VII. 22)
Esse
grande poema é considerado a jóia mais preciosa de toda a literatura indiana.
Ele é um tipo de comentário sobre os Vedas. Ele mostra que a nossa batalha pela
espiritualidade deve ser enfrentada nesta vida. Logo, não devemos fugir dela,
mas sim tirar dela tudo o que ela tiver para nos dar. Enquanto o Gita representa essa luta por
coisas mais elevadas, ele é altamente poético ao descrever a cena no campo de
batalha. Krishna no papel do condutor da carruagem de Arjuna, o líder de um dos
exércitos em oposição, exorta-o a não ser uma pessoa cheia de tristeza , a não
temer a morte, pois ele sabe que é imortal, que nada do que sofre mudança pode estar na natureza
real do homem. Através dos capítulos, Krishna ensina as verdades mais elevadas
da filosofia e da religião para Arjuna.
São esses ensinamentos que tornam esse poema tão maravilhoso;
praticamente a totalidade da filosofia
Vedanta está incluída neles
( Complete Works VIII 8-9)
A
sabedoria pode ser praticada até mesmo num campo de batalha. Assim foi pregado no Gita . Existem três
estados da mente; o ativo, o passivo e o
sereno. O estado passivo é caracterizado
por vibrações muito lentas, o estado ativo por vibrações muito rápidas, e o
estado sereno pelas vibrações mais intensas de todas. Saiba que a alma está sentada na carruagem .
O corpo é a carruagem; os sentidos exteriores são os cavalos; a mente são as
rédeas; e o intelecto é o condutor da carruagem. Dessa forma o homem atravessa o oceano de
Maya. Ele vai apara além dele. Ele
alcança Deus. Quando um homem está sob o controle dos sentidos, ele é deste
mundo. Quando controlou os sentidos ele
renunciou.
Mesmo
o perdão, se for fraco e passivo, não é verdadeiro: a luta é melhor. Perdoe
apenas quando puder levar legiões de anjos para a vitoria. Krishna, o condutor
da carruagem, ouve Arjuna dizer, “Vamos perdoar nossos inimigos”, e responde, “Você fala palavras de um homem
sábio, você não é um homem sábio, mas um covarde.” Como a flor de Lótus,
vivendo na água mas intocada por ela, assim deve ser a alma no mundo. Este é um campo de batalha, lute para sair
dele. A vida neste mundo é uma tentativa de ver Deus. Transforme sua vida em
uma manifestação de sua vontade fortalecida pela renúncia.
(Complete Works.
VIII. 227).
Krishna
(Realizada
na Califórnia, em 1 Abril de 1900)
Quase
as mesmas circunstâncias que deram origem ao nascimento do Budismo na Índia,
envolvem o surgimento de Krishna. Não apenas isso, os eventos daquele dia ainda
vemos acontecer em nossos dias .
Existe
um certo ideal. Ao mesmo tempo haverá
sempre uma grande maioria da raça humana que não pode chegar ao ideal, nem
mesmo intelectualmente. . . . Os mais fortes conseguem e em muitas ocasiões não tem simpatia pelos
fracos. Para os fortes os fracos são apenas mendigos. Os fortes seguem em
frente . . . . Logo vemos, é claro, que a posição mais elevada a conseguir é a
de ter compaixão e de ajudar aqueles que são fracos. Mas em muitos casos o filósofo em nós barra o caminho da compaixão e da
solidariedade. Se formos pela teoria de que o todo desta vida infinita deve ser
determinado pelos poucos anos de existência aqui e agora . . . .então é inútil
para nós, . . . e não temos tempo para olhar
para aqueles que são fracos. Mas e se essas não forem as condições -e se
o mundo for apenas uma das escolas pelas quais temos que passar, e se a vida
eterna deve ser moldada, construída e
guiada pela lei eterna, e a lei eterna e as chances eternas esperam por todo
mundo- então não precisamos ter
pressa. Temos tempo para a compaixão,
para olhar em volta, estender a mão para auxiliar os mais fracos e levá-los
para cima.
Com Budismo temos duas palavras em Sânscrito: uma
é traduzida como religião a outra, uma seita.
Éum fato dos mais curiosos, que discípulos e descendentes de Krishna não
tem um nome para sua religião, [apesar de que] estrangeiros a chamam de
Hinduísmo ou Brahminismo. Existe
uma religião, e existem muitas seitas. No momento em que você dá um nome a ela, individualiza-a e a separa do resto, ela é
uma seita, não mais uma religião. Uma seita [proclama] sua própria verdade e
declara que não existe verdade em nenhum outro lugar. A religião acredita que houve
e ainda há uma religião em todo o mundo. Nunca existiram duas religiões. É a mesma religião [apresentando] diferentes aspectos em lugares diferentes. A
tarefa é visualizar um entendimento apropriado para o objetivo e a dimensão da
humanidade.
Esse
foi o grande trabalho de Krishna: clarear
nossos olhos e fazer com que tivéssemos uma visão mais ampla sobre a humanidade
e sua marcha evolutiva para o alto e para o
seu interior. O coração dele foi
o primeiro grande o bastante para enxergar a verdade em tudo, e os seus foram
os primeiro lábios que produziram maravilhosas palavras para todos e para tudo.
Esse
Krishna precedeu Buddha em alguns
milhares de anos. . .
Uma grande quantidade de pessoas acredita
que ele jamais existiu . Alguns
acreditam que [a adoração à Krishna surgiu da ] antiga adoração ao sol. Parecem ter existido vários Krishnas: um deles foi mencionado nos Upanishads, outro era um rei , outro um general. Todos eles foram fundidos em um só
Krishna. Isso não importa muito. O fato
é que surge um indivíduo que é único em sua espiritualidade. Então todos os tipo de lendas são inventadas
em torno dele. Mas todas as Bíblias e
histórias, que foram baseadas nessa
pessoa tem que ser refeitas [nos moldes]
de seu caráter. Todas as histórias do
Novo Testamento tiveram que ser modeladas a partir da vida aceita [e] caráter
de Cristo. Em todas as histórias hindus
sobre Buddha um ponto central de toda a vida
dele é sempre mantido - o sacrifício pelos outros.
Em
Krishna encontramos . . . duas supremas idéias em sua mensagem: A primeira é
harmonia entre diferentes idéias;
a segunda é o desapego. Um homem pode atingir a perfeição, no objetivo
mais elevado, ao sentar em um
trono, ao comandar exércitos, ao preparar grandes planos para as nações. De
verdade, o grande sermão de Krishna foi
pregado em um campo de batalha.
Krishna
via diretamente através da vaidade de
todas as mímicas, gestos e cerimoniais dos velhos sacerdotes; e mesmo assim
ainda conseguia ver algo de bom em todos eles. Se você é um homem forte, muito
bom! Mas não amaldiçoe aqueles que não
são suficientemente fortes para você. . . .
Todo mundo diz, “Pobre de vocês!” Quem é que diz “Pobre de mim que não
sou capaz de ajudar vocês.”? As pessoas
estão fazendo o melhor que podem de acordo com suas habilidades, meios e
conhecimento. Pobre de mim que não sou
capaz de levantá-los até onde estou!
Os
cerimoniais, as adorações aos deuses, e
mitos , estão certos, Krishna diz . . . . Porque? Porque todos eles levam ao mesmo
objetivo. Cerimônias, livros e formas -
todos eles são elos da corrente. Segure!
Isso é um fato. Se você é sincero
e realmente segurou um dos elos, não o perca; o restante está por vir [Mas as
pessoas]não seguram. Elas desperdiçam o tempo brigando e determinando o que
deveriam e o que não deveriam segurar de
todas as coisas. Nós estamos sempre em
busca da verdade, mas nunca queremos chegar a ela . Queremos simplesmente usufruir do prazer de
procurar e perguntar por ela. Nós temos muita energia e a gastamos dessa forma
. Essa é a razão pela qual Krishna diz : Segure qualquer uma dessas
correntes estendidas, vindas do centro comum .
Nenhum passo é maior do que o outro. . . . Não acuse nenhuma visão
religiosa, desde que ela seja sincera .
Segure um desses elos, e ele vai
puxar você para o centro . Seu próprio coração vai ensinar a você o
restante. O mestre interior irá ensinar
todos os credos e todas as filosofias. . . .
Krishna
fala de si mesmo como um Deus, assim como faz
o Cristo. Ele vê a Divindade em
si mesmo. E ele diz, “Ninguém pode
passar um dia sequer fora do meu caminho”.
Todos tem que chegar até mim. Qualquer um que queira adorar qualquer
forma, eu dou a ele fé naquela forma, e através dela em me encontro com ele. .
. (Gita,IV. 12.) . O coração
Dele é todo voltado para as massas.
Independente,
Krishna permanece em sua posição. A própria coragem disso nos amedronta. Somos
dependentes de tudo. . . . de
algumas boas palavras, de circunstâncias. Enquanto que a alma deseja não depender de
nada, nem mesmo da vida. Essa é a medida da filosofia, a medida da humanidade. A adoração leva ao mesmo objetivo.
Krishna coloca muito peso na adoração. Adore a Deus!
Neste
mundo vemos vários tipos de adoração. O
homem doente é muito adorador de Deus. . . . Há o homem que perde sua
fortuna; ele também ora muito, para
conseguir dinheiro. A mais alta
expressão de adoração é aquela do homem que adora a Deus apenas por Deus mesmo.
[A pergunta pode ser feita:] “Porque haveria tanta tristeza se existe Deus?” O
adorador responde: “. . . Existe miséria
no mundo [mas] por essa razão eu não
deixo de amar a Deus, eu não adoro a Deus para que ele acabe com a minha [miséria].
Eu O amo porque Ele é o próprio amor.“ Os outros [tipos de adoração] são
de grau pouco elevado; mas Krishna
não condena nada. É melhor fazer alguma coisa do que ficar imóvel. O homem que começa a adorar a Deus irá
evoluir aos poucos e começará a amar a Deus apenas por Ele mesmo.
Como
alcançar a pureza vivendo esta vida? Devemos todos ir para as cavernas na
floresta? Qual benefício isso iria
causar? Se a mente não está sob controle, não há utilidade em viver em uma
caverna porque essa mesma mente iria causar distúrbios danosos ali. Iremos encontrar vinte demônios dentro da
caverna porque todos os demônios estão dentro da mente. Se a mente está sob
controle, podemos obter a caverna em qualquer lugar, onde quer que estejamos.
É
nossa própria atitude mental que faz do mundo o que ele é . Nossos pensamentos
tornam as coisas belas , nossos pensamentos tornam as coisas feias. O mundo
inteiro está em nossas próprias mentes. Aprenda a ver as coisas sob a luz apropriada.
Primeiro, acredite neste mundo - que existe um significado por trás de todas as
coisas. Todas as coisas do mundo são boas, são sagradas e são bonitas. Se você ver uma coisa ruim, pense que você não a está
entendendo sob a luz correta . Joguem o
peso sobre vocês mesmos!
. . . .Sempre que estivermos tentados a
dizer que o mundo está perdido, devemos nos analisar, e perceberemos que
perdemos a capacidade de ver as coisas como elas são realmente.
Trabalhe
noite e dia! “Veja, eu sou o Senhor do Universo. Eu não tenho deveres. Todo
dever é uma prisão. Mas eu trabalho apenas pelo trabalho. Se eu cessasse de
trabalhar por um minuto, [seria o caos].”(Gita,
III. 22-23.) Então, faça seu trabalho. Sem nenhuma idéia de dever. . . .
Esse
mundo é uma brincadeira. Vocês são os
companheiros de brincadeira Dele. Vá e
trabalhe, sem nenhuma tristeza, sem nenhuma miséria. Eu vejo Ele brincar nas
favelas e nos salões ! Trabalhe para
elevar as pessoas! Não que elas sejam
más ou desprezíveis. Krishna não diz
isso.
Você
sabe porque tão pouco trabalho é feito?
Uma senhora vai até as favelas. . . . distribui algum dinheiro e diz,
“Meu pobre homem, pegue isto e seja feliz!” . . . Ou uma boa mulher, andando
pela rua , vê um pobre cidadão e atira
cinco centavos a ele. Pense na blasfêmia contida nisso! Abençoados somos nós a quem o Senhor deu
Seus ensinamentos em seu próprio
Testamento. Jesus diz, "Quando o fizestes a um destes meus
pequeninos irmãos, a mim o fizestes." É uma blasfêmia pensar que você pode ajudar
alguém. Em primeiro lugar arranque as
raízes dessa idéia de ajudar e então comece a adoração. Os filhos de Deus são
os filhos do seu Mestre . [E os filhos não são mais do que diferentes formas do
pai]. Você é um servo Dele. . . .Sirva
ao Deus vivo! Deus vem até você no cego, no
aleijado, no pobre, no fraco, no
diabólico. Que gloriosa chance que você
tem para adorá-Lo com salvar! No momento
em que achar que esta “ajudando”, você estraga a coisa toda e diminui a si mesmo. Sabendo disso,
trabalhe. “E o que acontece depois?”você
diz. Você não sentirá o coração
partido,nem aquela horrível miséria . .
. Aí então o trabalho não é mais escravidão.
Ele se torna uma brincadeira e uma alegria por si mesmo. . . .
Trabalhe! Seja desapegado! Aí está todo
o segredo. Se você se apega, você se
torna miserável. . . .
Nós nos identificamos com tudo o que fazemos na
vida. Aqui está um homem que me diz
palavras ásperas . Eu sinto a raiva tomando conta de mim. Em alguns segundos a
ira e eu seremos um e aí começa a miséria .
Apeguem -se ao Senhor e a nada mais pois tudo o mais é irreal. Apego ao que é irreal traz a miséria. Há apenas uma Existência que é real, apenas
uma Vida na qual não existe nem objeto nem [sujeito]. . . .
Mas
o amor com desapego não irá ferir você . Faça qualquer coisa, case-se, tenha
filhos. . . . Faça tudo que quiser - nada irá ferir você . Não faça nada com a
idéia de “meu”. O dever apenas pelo
dever; o trabalho, apenas pelo trabalho. O que é tudo isso para você? Você se coloca de lado.
Quando
chegarmos a esse estado de desapego, poderemos então entender o maravilhoso
mistério do universo; como é a intensa atividade e vibração que existe nele e
ao mesmo tempo paz e quietude; como ele pode trabalhar a todos os momentos e
repousar em todos os momentos. Esse é o mistério do universo - o impessoal e o
pessoal em um, o infinito e o finito em um.
Podemos então conhecer o segredo. Aquele que encontra repouso no meio de
intensa atividade, e intensa atividade no meio do repouso , esse se tornou um
yogui.”(Gita, IV. 18.).
Apenas ele é um verdadeiro
trabalhador, ninguém mais. Nós
trabalhamos um pouco e logo ficamos curvados. Porque? Ficamos apegados àquele
trabalho. Se não ficarmos apegados , mas lado a lado com ele alcançaremos infinito repouso. . . .
Como
é difícil chegar a esse tipo de desapego!
Então Krishna nos mostra os caminhos e os métodos mais simples . O
caminho mais fácil para todos é realizar o trabalho [dele ou dela] e não
recolher os resultados. São nossos desejos que nos atam. Se recolhemos os
resultados das ações, sejam eles bons ou
maus teremos que suportá-los. Mas se trabalharmos, não para nós mesmos, mas
para a glória do Senhor, os resultados tomarão conta de si mesmos. “Você tem o direito ao trabalho, mas não aos
frutos desse trabalho”. (Ibid., 11. 47). Um soldado não trabalha pelos
resultados. Ele cumpre seu dever. Se acontecer a derrota, ela pertence ao
general, não ao soldado. Apenas pelo amor cumprimos nosso dever, amor ao
general, amor ao Senhor . . . .
Se
você é forte, abrace a filosofia Vedanta
e seja independente. Se você não
pode fazer isso, adore a Deus; se não, adore alguma imagem. Se faltar força a
você até para isso, faça alguns bons
trabalhos sem pensar de ganhar alguma coisa . Ofereça tudo que você tiver a
serviço do Senhor. Lute! “Folhas, água e
uma flor- quem quer que deixe qualquer coisa em meu altar, eu receberei com o
mesmo júbilo.”(Gita, IX,26). Se você não pode fazer nada,, nem sequer um
bom trabalho, então busque refúgio [no Senhor]. “O Senhor habita dentro do
coração dos seres fazendo com que eles se voltem para o seu círculo. Com toda sua alma e coração
busque refugio Nele. . . .(Ibid., XVIII.
61-62.).
Essas
são algumas das idéias gerais que Krishna pregou com sua idéia de amor [no
Gita]. Existem [em ] outros grandes livros, sermões sobre o amor - de Buddha,
de Jesus. . . .
Algumas
palavras sobre a vida de Krishna. Existe uma grande similaridade entre as vidas
de Jesus e de Krishna. A discussão que acontece é sobre quem usou as palavras
de quem. Havia um rei tirano nos dois
lugares. Ambos nasceram em uma manjedoura. Os pais foram determinados nos dois
casos. Ambos foram salvos pelos anjos. Nos dois casos todos os garotos nascidos
naquele ano foram mortos .A infância é a mesma. . . . e novamente, no
final os dois foram mortos. Krishna foi morto por acidente; ele levou o
homem que o matou para os céus. Cristo foi morto e abençoou o ladrão e levou-o
consigo para os céus.
Existem
muitas e grandes semelhanças nos ensinamentos do Novo Testamento e no Gita. O
pensamento humano anda pelo mesmo caminho. . . . Eu irei encontrar para você a resposta nas palavras do próprio
Krishna “Sempre que a virtude morre e a
irreligião prevalece, eu volto . De novo e de novo eu voltarei. Então, sempre que
você encontrar uma grande alma lutando para o crescimento da humanidade, saiba
que eu voltei, e Me adore.” (Gita., IV. 8; X. 41).
Ao
mesmo tempo, se ele vem como Jesus ou como Buddha, porque existe tantã ruptura?
As pregações devem ser seguidas! Um
Hindu devotado diria: o próprio Deus foi quem se tornou Cristo e Krishna e
Buddha e todos esses [grandes mestres].
Um filósofo Hindu diria: essas
são as grandes almas; elas já são livres. E apesar de livres eles se recusam a
aceitar a sua liberação enquanto o mundo inteiro está sofrendo. Eles voltam muitas e muitas vezes, tomam um
corpo humano e auxiliam a humanidade.
Eles sabem desde a infância quem
são e para que eles vieram . . . .
Eles não voltam através da escravidão como fazemos nós . . . . Eles vem
através de sua livre vontade e não podem se impedir de ter um tremendo poder
espiritual. Nós não podemos resistir a isso.
A grande massa da humanidade é dragada pelo redemoinho da
espiritualidade e a vibração continua sempre, porque uma dessas [grandes almas]
dá um empurrão. E isso continua até que a humanidade seja liberada e a
brincadeira deste planeta seja então
terminada.
Glória
para as grandes almas, cujas vidas temos estudado! Eles são os Deuses vivos do mundo. Elas são as pessoas que devemos adorar.
Se Ele vier até mim eu posso
reconhecê-Lo apenas se Ele tomar
uma forma humana . Ele está em
todos os lugares, mas nós conseguimos vê-Lo?
Nós podemos vê-Lo apenas se ele usar a limitação do homem. . . Se
homens. . . . e animais . . . são manifestações de Deus, esses mestres da
humanidade são líderes, são Gurus. Então, saudações a vocês cujos pés são
adorados pelos anjos. Saudações a vocês líderes da raça humana! Saudações a
vocês grandes mestres! Vocês, líderes tem
nossas saudações para sempre e sempre!
(Complete Works V. I. 437-45
O Gita
I
(Realizado
em São Francisco em 26 de maio de 1900)
Para
compreender o Gita é necessário conhecer os seus fundamentos históricos. O Gita é um comentário sobre os Upanishads.
Os Upanishads são a Bíblia da Índia.
Eles ocupam o mesmo lugar que ocupa o Novo Testamento. Existem [mais de] cem livros englobando os
Upanishads, alguns muito pequenos e alguns grandes, cada um deles, um tratado
em separado. Os Upanishads não revelam a
vida de nenhum mestre, mas simplesmente ensinam alguns princípios. Eles são [como foram] notas, escritas à mão
feitas a partir de discussões em [assembléias de eruditos], feitas em geral em
cortes de reis. A palavra Upanishads
pode significar “assentos”[ou, “sentar
perto de um mestre”]. Aqueles de vocês que puderam estudar alguns dos Upanishads podem conhecer a forma como eles
são apresentados, em pequenas notas de
forma condensada. Depois de terem sido
realizadas longas discussões , essas
anotações foram feitas, possivelmente baseadas na memória. A dificuldade é que se tira muito pouco do
fundamento histórico. Apenas alguns
pontos luminosos são ali mencionados. A origem do antigo Sânscrito é de 5.000 A.C.;
Os Upanishads [são de pelo menos] dois mil anos antes disso. Ninguém
sabe [exatamente] qual a idade deles. O
Gita pega as idéias dos Upanishads e [em alguns] casos as próprias palavras.
Elas são agrupadas em série com a idéia de trazer, de uma forma compacta,
condensada e sistemática o argumento completo dos quais trata os Upanishads.
As
escrituras [originais] dos Hindus são chamadas de Vedas. Era tão vasta
a massa escrita - que se os
textos fossem trazidos aqui, não caberiam nesta sala . Muitos deles foram perdidos. Eles foram dividido sem categorias, cada uma
dessas categorias foi colocada dentro da
cabeça de alguns sacerdotes e mantidas vivas na memória. Esses homens ainda existem. Eles repetirão
livro após livro dos Vedas sem perder uma única entonação. A porção maior dos Vedas desapareceu. A pequena porção que
restou forma, ela própria uma biblioteca. As mais velhas entre elas contém os
hinos do Rig-Veda. É o objetivo do
sábio moderno restaurar [a seqüência das composições Védicas]. A velha e ortodoxa idéia é bem diferente.
Como também é bem diferente a sua idéia
ortodoxa da Bíblia da idéia dos sábios modernos. Os Vedas são divididos em duas
partes: uma delas são os Upanishads, a porção filosófica, a outra é a porção do
trabalho.
Tentaremos
dar uma ligeira idéia da porção do trabalho. Ela consiste de rituais e hinos,
vários dos hinos sendo endereçados a vários deuses. A parte ritual é composta de cerimônias,
algumas delas muito elaboradas. São
necessários muitos sacerdotes. A função
sacerdotal se tornou por si própria uma ciência
devido à elaboração dos cerimoniais.
Gradualmente a idéia popular de veneração cresceu ao redor desses hinos
e rituais. Os deuses desapareceram para
dar lugar aos rituais. Esse foi um
curioso desenvolvimento na Índia. O Hindu
ortodoxo [o Mimamsaka] não acredita em deuses, os não ortodoxos
acreditam neles. Se você perguntar ao
Hindu ortodoxo qual o significado desses deuses nos Vedas, [ele não será capaz
de dar uma resposta satisfatória]. Os sacerdotes cantam esses hinos e fazem ablações e ofertas ao fogo. Quando você pergunta ao Hindu
ortodoxo o significado disso, ele diz que as palavras tem o poder de
produzir certos efeitos . Isso é tudo.
Existe todo o poder natural e supernatural que sempre existiu. Os Vedas
são simplesmente palavras que tem o poder místico de produzir efeitos, se a
entonação do som estiver correta . Se um
som estiver errado não funcionará. Cada um deles tem que ser perfeito. [Logo],
o que em outras religiões é chamado oração, desapareceu e os Vedas se tornaram os deuses. Veja então a
tremenda importância atribuída às palavras dos Vedas. Essas são as eternas palavras de onde todo o
universo foi produzido. Não poderia existir nenhum pensamento sem a palavra.
Logo qualquer coisa que exista nesse mundo é a manifestação do pensamento, e o
pensamento apenas pode se manifestar através das palavras. Essa massa de
palavras, pelas quais o pensamento não manifestado se manifesta, isso é o que significam os Vedas.
O que acontece é que a existência exterior de todas as coisas [depende dos
Vedas, para o pensamento] não existe sem a palavra. Se a palavra ”cavalo” não existisse ninguém
poderia pensar em um cavalo. [Logo] deve existir [uma relação íntima entre]
pensamento, palavra e o objeto externo.
O que são essas palavras [em realidade]?
Os Vedas. Eles não a chamam de
maneira nenhuma de linguagem Sânscrita.
É a linguagem Védica, a linguagem divina. O Sânscrito é uma forma
deteriorada. Assim como as outras linguagens. Não existe uma linguagem mais
antiga do que os Vedas. Você pode perguntar “Quem escreveu os Vedas?” Eles não
foram escritos. As palavras são os Vedas.
A palavra é Veda, se eu pronunciar corretamente. Então ela imediatamente
produzirá o [desejado] efeito.
Essa
massa de Vedas existe eternamente e o
mundo inteiro é a manifestação dessas palavras. Então quando o ciclo
termina, toda a manifestação de energia
se torna cada vez mais refinada, se torna apenas palavras, e então
pensamento. No próximo ciclo, primeiro o
pensamento se transforma em palavras e então dessas palavras [todo universo] é
produzido. Se existe alguma coisa aqui
que não está nos Vedas, isso é ilusão sua.
Isso não existe.
[Numerosos]
livros sobre esse assunto apenas defendem os Vedas. Se você disser [aos seus autores] que os Vedas devem ter sido
pronunciados primeiro pelos homens, [eles irão simplesmente rir]. Você nunca
ouviu nenhum [homem articulá-las pela
primeira vez]. Tome as palavras de
Buddha. Existe uma tradição que diz que
ele viveu e falou essas palavras [muitas vezes anteriormente]. Se os Cristãos
disserem, “Minha religião é uma religião histórica , logo a sua é errada e a nossa é a certa”, [o mimamsaka responde], “ Sendo a sua
histórica, você confessa que o homem a inventou a mil e novecentos anos
atrás. Esta, que é a verdade, deve ser
infinita e eterna. Esse é o único teste da verdade. Ele nunca decai, é sempre o
mesmo. Você confessa que a sua religião foi criada por tal e tal homem. Os
Vedas não o foram. Por nenhum profeta ou por nada. . . . Apenas palavras
infinitas, infinitas por sua própria natureza das qual todo o universo vem e
vai. “ No abstrato é perfeitamente
correto. . . . O Som deve ser o começo da criação. Devem existir sementes de
som como plasma de sementes. Não
podem existir quaisquer idéias sem as
palavras. . . . Onde quer que existam sensações, idéias, emoções, devem existir
palavras. A dificuldade acontece quando
dizem que esses quatro livros são os Vedas e nada mais. [Então] os Budistas
irão se levantar e dizer,
"Os nossos são os Vedas, eles foram revelados a nós mais tarde. A natureza não funciona dessa
maneira. A natureza não manifesta suas leis pouco a pouco, um centímetro de
gravidade hoje e [outro centímetro] amanhã.
Não, cada lei é completa. Não
existe nenhuma evolução na lei. Ela é
[dada] de uma vez e para sempre. É uma bobagem
essa ”nova religião e melhor inspiração” e tudo o mais.
Não significa nada. Poderia haver ali cem mil leis e hoje o homem pode conhecer apenas algumas
poucas. Nós as descobrimos - isso é tudo.
Aqueles velhos sacerdotes com seus tremendas [reivindicações sobre as
palavras eternas], tendo destronado os deuses, tomaram o lugar dos deuses.
[Eles disseram], "Vocês não entendem o poder das palavras. Nós sabemos
como usá-las. Nós somos os deuses vivos do mundo. Paguem -nos; nós iremos manipular as palavras
e você terá o que quiser . Vocês mesmos
podem pronunciar as palavras? Vocês não
podem, pois prestem atenção,um erro
pode produzir o efeito contrário. Você quer ser rico, bonito, ter uma vida
longa, um bom marido? Apenas pague o sacerdote e fique quieto !
Mas
ainda existe um outro lado. O ideal da
primeira parte dos Vedas é completamente diferente do ideal da segunda parte,
os Upanishads. O ideal da primeira parte coincide com [aqueles de] todas as outras religiões do
mundo, com exceção da Vedanta. O ideal é o gozo aqui e sempre,-homem e
esposa, marido e filhos. Pague o seu dólar e o sacerdote dará a você um
certificado que vai garantir, que no final você terá uma vida feliz nos céus .
Você vai encontrar ali todos os seus conhecidos e vai ser um carrossel sem fim. Sem lágrimas nem soluços,
apenas risadas. Sem dor de estômago mas ainda comendo. Sem dor de cabeça, mas
[festas]. Esse, os sacerdotes
consideravam o mais alto objetivo do homem.
Existe
uma outra idéia nessa filosofia, que está de acordo com suas idéias
modernas. O homem é um escravo da
natureza, e como escravo ele tem que permanecer eternamente. Nós chamamos isso de Karma.
Karma significa lei e se aplica a qualquer lugar. Tudo está determinado pelo Karma. “Não existe
saída para isso?” “Não! Permaneçam escravos através dos tempos - bons
escravos. Nós iremos manipular as
palavras para que você tenha apenas o bom e nunca o lado mau de tudo, se você
pagar [a nós] o bastante.” Esse era o ideal [dos Mimamsakas]. Eram esses os ideais populares através das
eras. A grande massa da humanidade nunca
são pensadores. Mesmo se eles tentam
pensar, o [efeito da] vasta massa de
superstição sobre eles é terrível . No momento
em que eles acordam, um sopro acontece,
e a espinha se quebra em vinte
pedaços. Eles só conseguem ser movidos
por atrativos ou por ameaças. Eles não podem nunca ser movidos por sua
própria concordância. Eles devem ser, ameaçados, amedrontados, ou aterrorizados, e eles são seus escravos
para sempre. Eles não tem mais nada a
fazer do que pagar e obedecer. Tudo o mais é feito pelo sacerdote. . . . Como
se tornam mais fáceis as religiões!
Veja, você não tem nada a fazer. Vá para casa e sente-se quieto. Alguém está
fazendo toda coisa por você. Pobres,
pobres animais!
Lado
desse, havia o outro sistema. Os Upanishads são diametralmente opostos em todas
suas conclusões. Em primeiro lugar os
Upanishads acreditam em Deus, o criador do universo, aquele que o governa. Você
encontra mais tarde[a idéia de uma benigna Providência. É uma [ concepção] inteiramente oposta. Agora, apesar de ouvirmos o sacerdote, o
ideal é muito mais sutil. Ao invés de
muitos deuses, eles construíram um só Deus.
A
segunda idéia, de que todos vocês estão
limitados pela lei do Karma, os
Upanishads admitem, mas eles mostram o caminho para escapar. O objetivo do homem é ir além da lei. E o prazer
não pode nunca ser o objetivo, pois o prazer pode estar apenas na
natureza.
Em
terceiro lugar , os Upanishads condenam qualquer sacrifício e dizem que isso é feitiçaria. Isso pode dar a você tudo o que
você quer, mas não é desejável pois quanto mais consegue mais você[quer], e
você fica girando nesse circulo eternamente, nunca chegando ao fim - prazer e
lágrimas. Algo como a eterna felicidade
é impossível em qualquer lugar. É apenas um sonho infantil. A mesma energia se
transforma em alegria e tristeza.
Eu
mudei um pouco a minha psicologia atualmente.
Eu encontrei um fato dos mais curiosos. Você tem uma certa idéia, mas
não quer tê-la, então pensa sobre uma outra coisa, e a idéia que não quer, você consegue suprimir
inteiramente. O que é aquela idéia? Eu a
vi surgir em quinze minutos. Ela apareceu e tomou conta de mim . Era algo muito forte e surgiu de uma forma
tão violenta e terrível [que] eu pensei: aqui está um homem louco. E quando
terminou, tudo o que aconteceu [foi a supressão da emoção anterior]. O que
surgiu? Foi a minha própria má impressão
que tinha que ser trabalhada. “A
natureza fará à sua maneira”. O que a
supressão pode fazer?”(Gita, III. 33). Essa é uma
terrível [declaração] no Gita.
Parece afinal uma luta inútil . Você pode ter cem mil [necessidades
urgentes competindo] ao mesmo tempo. Você pode reprimir [elas], mas no momento
que elas voltam de sua origem , a coisa toda está lá novamente.
[Mas
existe esperança]. Se você for poderoso o bastante , poderá dividir sua
consciência em vinte partes todas ao mesmo tempo. Eu estou mudando a minha
psicologia. A mente cresce. Isso é o que
os Yoguis dizem. Existe uma paixão e ela
dá origem a outra e a primeira então morre.
Se você está com raiva, e depois está feliz no momento seguinte, a raiva
desaparece. Daquela raiva você fabrica o próximo estado. Esses estados são sempre
intercambiáveis. Felicidade e miséria
eternas são um sonho infantil. Os Upanishads apontam que o objetivo do homem
não é nem a miséria nem a felicidade, mas que temos que dominar a fonte da qual
elas são fabricadas. Devemos ser os donos das situação na sua própria raiz, da
forma como era.
O
outro ponto de divergência é: Os Upanishads condenam todos os rituais,
inclusive aqueles que envolvem a matança de animais. Eles declaram que tudo
isso é bobagem. Uma das escolas dos
antigos filósofos diz que você deve matar tais animais em um momento certo para que se produza o efeito necessário.
[Você pode retrucar], “Mas [existe] também o pecado de tirar a vida do animal; você terá que pagar por isso com sofrimento.
“Eles dizem que isso é tolice”. Como
você sabe o que é certo e o que é errado?
É sua mente que diz isso? Quem se
importa com o que diz sua mente? Que
tolice que você está cometendo? Você
está colocando sua mente contra as escrituras.
Se sua mente diz uma coisa e os
Vedas dizem outra, interrompa sua
mente e acredite nos Vedas. Se eles
dizem, matar um homem é certo, então é
certo . Se você diz, “Não, minha consciência diz [de
outra forma, não vai funcionar]. No
momento em que você acreditar em um livro como a palavra eterna e sagrada, você
não pode mais questionar. Eu não vejo como vocês aqui acreditam na Bíblia
quando vocês dizem sobre [ela], “Como são maravilhosas essas palavras como são
corretas e boas!” Porque, se vocês acreditam na Bíblia como contendo as palavras de Deus, , vocês não tem nenhum direito de julgá-las. No momento em que vocês julgam, vocês pensam
que são mais elevados do que a Bíblia.
[Então] qual é a utilidade da Bíblia para vocês? Os sacerdotes dizem, “Nós
nos recusamos a fazer qualquer comparação com sua Bíblia ou com qualquer
um. Não há utilidade em comparar,
porque, com que autoridade se faz isso. Aí tudo termina. Se você acha que
alguma coisa não está certa, vá e retire
tudo o que é certo de acordo com os Vedas.”
Os
Upanishads acreditam nisso, [mas
eles também tem um modelo mais elevado]. De um lado eles não esperam derrubar
os Vedas, e de outro lado eles vêem esse sacrifícios de animais e os sacerdotes
roubando dinheiro de todo mundo. Mas na
psicologia eles são todos parecidos.
Todas as diferenças tem sido na filosofia. [Com relação] à natureza da
alma . Tem ela corpo e mente? E a mente
é apenas um amontoado de nervos, os
nervos motores e os nervos sensoriais ? A Psicologia, eles todos consideram, é
a ciência perfeita. Não pode haver ali
nenhuma diferença. Toda a batalha tem sido em relação à filosofia - a
natureza da alma, e Deus, e tudo o
mais.
Então
outra diferença entre os sacerdotes e os Upanishads. Os Upanishads dizem, renuncie. Esse é o teste de tudo. Renuncie a tudo. É a faculdade criadora que nos leva a todo
esse envolvimento. A mente está em sua própria natureza quando está calma. No
momento em que você puder acalmá-la, nesse [mesmo] momento você conhecerá a verdade. O que é isso que está fazendo a mente
girar? A imaginação, a criatividade.
Pare a criação e você conhecerá a verdade. Todo o poder de criação deve parar,
e então você conhecerá a verdade de uma vez por todas.
De
outro lado, os sacerdotes são todos a
favor da [criações]. Imaginem as
espécies de vida [Nas quais existe a atividade criativa. Isso é impensável]. As
pessoas tem que ter um plano [para evoluir uma sociedade estável. Um sistema
rígido de seleção foi adotado. Por exemplo] ninguém que seja cego e manco pode
se casar. [Como resultado] você encontrará muito menos deformidades [na
Índia] do que em qualquer outro país no
mundo. Epilépticos e doentes [pessoas]
são muito raros [ali]. Isso se deve à
seleção correta . Os sacerdotes dizem, “Deixe-os se tornarem Sannyasins. “ Por outro lado os Upanishads dizem, “Oh não, [as]mais belas
finas [e ] frescas flores da terra devem ser colocadas sobre o altar . O forte, o jovem, com intelecto e corpo
saudáveis - eles devem batalhar pela verdade. “
Logo,
com essas divergências de opinião, eu disse a vocês que os sacerdotes já se
diferenciaram em uma casta separada. A segunda é a casta dos reis. . . . Toda a
filosofia dos Upanishads vem do cérebro dos reis, não dos sacerdotes. [Ocorre]
uma luta econômica em de toda tentativa religiosa. Esse animal chamado homem tem alguma
influência religiosa , mas ele é guiado pela economia. Indivíduos são guiados
por alguma coisa mais, mas a massa da humanidade, nunca deu um passo a não ser
que a economia estivesse [envolvida].
Você pode [pregar uma religião que pode não ser perfeita em todos os
detalhes mas se houver um histórico econômico [para ela], e você tem os
mais [ardentes campeões] para pregá-la,
você pode convencer o mundo inteiro. . . .
Sempre
que uma religião obtém sucesso, ela deve possuir interesse econômico. Centenas
de seitas similares estarão tentando obter poder, mas apenas aquelas que vão de encontro ao
problema econômico real obterão sucesso. O homem é guiado pelo estômago. Ele caminha, e o estômago vem em primeiro
lugar e a cabeça vem depois. Você nunca percebeu isto? Serão necessárias muitas eras para que a cabeça
venha em primeiro lugar. No momento em que o homem atinge a idade de
sessenta anos, ele é chamado para fora [do mundo]. A vida inteira é uma ilusão
e justamente quando você começa a ver as coisas como elas verdadeiramente são,
você é mandado para fora. Enquanto o
estômago vier primeiro você está muito
bem. Quando o sonho infantil começa a desaparecer e você começa a olhar para as
coisas do jeito que elas são, a cabeça vai embora . Quando a cabeça vem
primeiro [você vai embora].
[Para] a religião dos Upanishads ser popularizada foi uma árdua tarefa . Existe muito pouca economia nela, mas um
temendo altruísmo. . . .
Os
Upanishads tem um reino muito pequeno, apesar de terem sido descobertos por
reis que sustentavam o poder real em
suas mãos. Então a luta. . . começou a
ser cada vez mais cruel. O seu ponto
culminante aconteceu dois mil anos depois, no Budismo. A semente do Budismo está aqui, [na ] luta
comum entre o rei e o sacerdote; e [na luta] todas as religiões se
enfraqueceram. Um queria sacrificar a religião, o outro queria se agarrar aos
sacrifícios, aos deuses Védicos, etc. O
Budismo . . . quebrou as correntes das massas. Todas as castas e credos, de uma
mesma forma se tornaram iguais em um minuto. Então as grandes idéias religiosas
existem na Índia, mas ainda tem que ser pregadas: pois de outra forma não fazem
nenhum bem. . . .
Em
todos os países o sacerdote é o conservador, por duas razões - é a sua subsistência
e porque ele apenas pode se mover com as pessoas. Os sacerdotes todos não são
fortes. Se as pessoas dizem,
"Preguem dois mil deuses”, os sacerdotes irão fazer isso. Eles são os servos da congregação que paga a
eles. Deus não os paga. Então, ponham a culpa em si mesmos ao invés de culpar
os sacerdotes. Vocês só podem ter o governo, a religião e os sacerdotes que
merecem, e nada melhor que isso.
Então
a grande luta começou na Índia e ela chaga a um de seus pontos culminantes
no Gita. Quando surgiu
o medo de que toda a Índia iria ser
quebrada entre [os] dois [grupos], surgiu então esse homem Krishna, e no
Gita ele tenta reconciliar a cerimônia e a filosofia dos sacerdotes e do
povo. Krishna é amado e adorado da mesma
forma que vocês fazem com Cristo. A
diferença é apenas a época. Os Hindus
comemoram o aniversário de Krishna assim
como vocês fazem com o de Cristo .
Krishna viveu a cinco mil anos atrás e a vida dele foi cheia de
milagres, alguns deles semelhantes àqueles na vida de Cristo. A criança nasceu na prisão. O pai levou-o
embora e colocou-o com os pastores. Foi
dada a ordem para que todas as crianças
nascidas naquele fossem mortas . . . .
Ele foi assassinado; aquele era o seu destino.
Krishna
era um homem casado. Existem centenas de livros sobre ele. Eles não me interessam muito. Os Hindus são ótimos para contar historias ,veja
você. [II] - Os missionários Cristãos
contam uma história de sua Bíblia, os Hindus irão contar vinte histórias. Vocês dirão que a baleia engoliu Jonas; os
Hindus dizem que viram alguém que
engoliu um elefante . Desde criança eu
ouvia sobre a vida de Krishna. Eu tinha certeza que tinha existido um homem
chamado Krishna, e seu Gita demonstra
que é verdade e que ele [deixou] um maravilhoso livro. Eu digo que
se pode entender o caráter de um homem analisando as fábulas a respeito
dele. As fábulas tem a natureza [de
medalhas de mérito ]. Vocês podem achar que elas foram polidas e manipuladas para se adequar ao caráter. Tomem
Buddha por exemplo. A idéia
central [é] sacrifício. Existem milhares de folclores ,mas em cada caso
o sacrifício foi mantido. Existem milhares de histórias sobre Lincoln de
algumas das características daquele grande homem. Todos vocês pegam as fábulas
e encontram a idéia geral e [sabem] que aquele era o caráter central daquele
homem. Vocês percebem em Krishna que o desapego é a idéia central. Ele não
precisa de nada. Ele não deseja nada. Ele trabalha apenas pelo trabalho. ”
Trabalhe apenas pelo trabalho. Adore apenas pela própria adoração. Faça o bem
porque é bom fazer o bem. Não peça mais nada.” Esse deve ter sido o caráter
desse homem. De outra forma essas fábulas não poderiam ter-nos levado à idéia
do desapego. O Gita não é apenas o seu único sermão. . . .
Ele
é o mais perfeito homem que eu conheço maravilhosamente desenvolvido,
igualmente em cérebro, coração e mãos. Cada
momento {dele} é vivo em atividade tanto
como cavalheiro como guerreiro, ministro ou qualquer outra coisa. Grande como
cavalheiro, poeta e sábio. Essa maravilhosa e bem arrematada atividade e a
combinação de cérebro e coração você vê no Gita e em outros livros. Um coração
maravilhoso, uma linguagem delicada à
qual nada, em nenhum lugar, consegue se aproximar. A tremenda atividade desse
homem - a impressão dela está ainda ali . Cinco mil anos se passaram e ele
influenciou milhares e milhares de seres. Pense na influência que esse homem
tem sobre o mundo inteiro, saiba você ou não. O meu reconhecimento é pela sua
perfeita sanidade. Nenhuma teia de aranha naquele cérebro, nenhuma superstição.
Ele conhece a utilidade de todas as coisas, e quando necessário encontra [um
lugar para cada uma], ele está ali. Aqueles que falam, vão a todos os lugares,
perguntam sobre os mistérios dos Vedas etc., eles não conhecem a verdade. Eles
não são nada mais do que fraudes. Existe um lugar nos Vedas[até ] para
superstições, para ignorância. Todo segredo está em encontrar o lugar certo
para tudo
E
aquele coração! Ele foi o primeiro homem
antes de Buddha, a abrir as portas da religião para todas as castas. Aquela mente maravilhosa. Que vida
tremendamente ativa! A atividade de Buddha estava em um plano, no plano do
ensinamento. Ele não podia manter sua esposa
e filho e ao mesmo tempo tornar-se um mestre. Krishna pregava no meio do campo
de batalha. “Aquele que em meio a
intensa atividade se encontra em grande
calma, e que na grande paz encontra intensa atividade esse é o maior, [tanto o Yogui como o homem mais sábio]”, (Gita, IV. 18). Não significa nada para esse homem - a queda
de mísseis voadores sobre ele. Calmo e
solene ele segue discutindo os
problemas da vida e da morte. Cada um
dos profetas é o melhor comentário de seu próprio ensinamento . Se você quer
saber o significado da doutrina do Novo Testamento, você vai falar com o Sr.
Fulano. [Mas] leia de novo e de novo [os quatro evangelhos e tente
entender sua contribuição para a luz
na maravilhosa vida do Mestre descrita aqui.] Os grandes homens pensam, e
você e eu [também] pensamos. Mas existe
uma diferença. Nós pensamos mas nossos
corpos não acompanham. Nossas ações não se harmonizam com os nossos
pensamentos. Nossas palavras não tem o
poder das palavras que se tornaram os Vedas. . . . O Que quer que eles pensem
deve ser realizado. Se eles dizem “Eu
faço isso”, o corpo faz. Perfeita
obediência. Isso é o fim. Você pode se achar Deus em um minuto, mas
você não pode ser [Deus]. Essa é a dificuldade. Eles se transformam naquilo que
pensam. Nós nos tornaremos mas [apenas]
em certo [grau].
Vejam,
isto foi sobre Krishna e seu tempo. Na próxima conferência conheceremos mais
sobre o seu livro.
(Complete WorksVol. I. 446-58
O Gita II
(Realizada
em São Francisco, em 28 de Maio de 1900)
O
Gita requer uma pequena introdução
preliminar. A cena acontece no campo de batalha de Kurukshetra. Existem
dois ramos de uma mesma raça lutando
entre si pelo império da Índia, cerca de cinco mil anos atrás. Os
Pandavas possuem o direito, mas
os Kauravas tem o poder. Os Pandavas
eram cinco irmãos e estavam vivendo na floresta. Krishna
era o amigo dos Pandavas. Os Kauravas não dariam a eles nem sequer um
pedaço de terra suficiente para cobrir o buraco feito por uma agulha.
A
cena de abertura é o campo de batalha, e
ambos os lados vêem os seus parentes e amigos - um irmão de um lado e o outro irmão do outro
lado; um avô de um lado e o neto do
outro . . . Quando Arjuna vê seus
próprios amigos e familiares do outro lado e percebe que ele pode ter que
matá-los , seu coração se revela e ele
diz que ele não irá lutar. Assim começa
o Gita.
Para todos nós neste mundo, a vida é uma luta
contínua. . . . Muitos momentos
acontecem nos quais interpretamos nossa fraqueza e covardia como se fossem
perdão e renúncia. Não existe mérito na renúncia de um mendigo. Se uma pessoa,
que pode [explodir], se contém, então
existe mérito. Se uma pessoa que possui,
renúncia, aí existe mérito. Sabemos o quão freqüentemente em nossas vidas, por preguiça ou covardia
desistimos da batalha e tentamos hipnotizar nossas mentes na crença de que
somos corajosos.
O
Gita abre com esse significante verso: “Levante-se, Oh príncipe, deixe esse
coração inseguro, essa fraqueza! Levante-se e lute!”, (Gita, II. 3). Arjuna então, tentando argumentar o assunto [com
Krishna], traz suas idéias morais, de
como a não resistência é melhor do que a resistência e assim por diante. Ele
está tentando se justificar, mas não pode enganar Krishna. Krishna é o Eu superior, ou Deus. Ele
logo enxerga através do argumento. Nesse caso [o motivo] é fraqueza.
Arjuna vê seus próprios familiares e não pode
entrar em choque com eles . . . .
Há
um conflito no coração de Arjuna , entre seu emocionalismo e o seu dever. Quanto mais próximos estamos das [bestas e]
pássaros, mais envolvidos estamos no torvelinho das emoções. Nós chamamos isso de amor. É auto-hipnotismo.
Estamos sob o controle de nossas
[emoções] como os animais. Uma vaca pode
sacrificar sua vida pelo seu
rebento. Todo animal pode. E daí?
Não é a emoção cega, como a de um passarinho que nos leva a perfeição. .
. . [Para alcançar] a eterna consciência, esse é o objetivo do homem! Não há lugar para o emocionalismo, nem para o
sentimentalismo, nem para as coisas que pertencem aos sentidos - apenas para a
luz da pura razão. [Ali] o homem é espírito.
Agora,
Arjuna está sob o controle de seu emocionalismo. Ele não é o que deveria ser - um grande e
iluminado sábio, pleno de autocontrole, trabalhando sob a eterna luz da razão.
Ele se tornou como um animal, como um bebê, permitindo que seu coração arraste o seu cérebro,
fazendo de si mesmo um tolo e tentando
esconder sua fraqueza sob o
florido nome de “amor “ e afins. Krishna enxerga através de tudo aquilo. Arjuna fala como um homem de pouca instrução
e apresenta muitas razões, mas ao mesmo tempo usa a linguagem de um tolo. O
sábio não se entristece nem por aqueles que estão vivendo nem por aqueles que
morrem (Gita, 11. 11.). [Krishna
diz:] “Você não pode morrer, nem eu. Nunca existiu um tempo em que você ou eu
não existíssemos. Nunca haverá um tempo em que não existiremos. Assim como
nesta vida o homem começa com a infância, e [passa através da juventude e a
velhice, da mesma forma na morte ele meramente passa para outro tipo de corpo].
Porque um homem sábio deveria ficar triste?”
(Ibid., II. 12-13). E onde está a origem desse emocionalismo que
tomou conta de você ? Está nos sentidos.
“É o toque dos sentidos que traz toda essa qualidade de existência :
calor e frio, prazer e dor. Eles vem e
vão.” (Gita 14). O homem se sente
miserável num momento, e feliz no momento seguinte. Dessa forma ele não pode experimentar a natureza da alma....
“A
existência não pode nunca ser não-existência, nem nunca a não-existência pode
se tornar existência . . .Saiba, então, que o que permeia todo esse universo ,
não tem começo nem fim. É imutável. Não
há nada no universo que pode mudar [o Imutável]. Apesar desse corpo ter seu começo e seu fim,
aquele que habita dentro dele é infinito e não tem fim .“ (Ibid., 16-18).
Sabendo
disso, levante-se e lute! Nenhum passo
para trás, essa é a idéia. . . . Lute, não importa o que aconteça. Deixe que as estrelas se movam entre as
esferas! Deixe o mundo inteiro se
colocar contra nós! A morte significa apenas uma troca de vestuário. E
daí? Então lute! Você não ganha nada
sendo covarde. . . . Dando um passo atrás, você não evita qualquer adversidade. Você clamou por todos os deuses
desse mundo. A miséria acabou?As massas na Índia pedem para seis milhões de
deuses, e ainda assim morrem como cães. Onde estão esses deuses? . . . Os deuses
vem para ajudar você quando você teve sucesso. Qual é a utilidade disso? Jogo da morte. . . .
Esse dobrar de joelhos para as superstições,
esse vender-se para sua própria mente não beneficia você, minha alma. Você é
infinito, não morre e não nasce. Porque
você é espírito infinito, não beneficia a você ser um escravo. . . .
Levante-se, fique de pé e lute. Morra se precisar. Não existe ninguém que possa
te ajudar. Você é todo o mundo. Quem
pode te ajudar?
“Os
seres são desconhecidos aos nossos sentidos humanos antes do nascimento e
depois da morte. É apenas nesse ínterim que eles se manifestam. O que existe ali para se lamentar?” ( Gita II. 28.)
“
Alguns olham para Ele [o Self] com admiração. Alguns ouvem falar Dele como algo maravilhoso. Outros, ouvindo falar Dele, não o compreendem. ( Ibid, 29.)
Mas se você diz que matar todas essas pessoas é pecado , então considere isso sob o
ponto de vista do seu próprio dever de casta . . . “Fazendo do prazer e da
miséria a mesma coisa, fazendo do sucesso e da derrota a mesma coisa,
levante-se e lute!” ( Ibid, 38.).
Esse é o começo de uma outra doutrina peculiar
do Gita - a doutrina do desapego. Isso
quer dizer, temos que agüentar os
resultados de nossas próprias ações porque nós nos apegamos a eles. . . .
Apenas aquilo que é feito como dever apenas pelo dever . . . pode dispersar os vínculos do Karma.” ( Ibid., 39). Não existe perigo de que você possa exagerar nisso. . . . “Se você fizer mesmo um
pouquinho disso [esse Yoga irá salvá-lo do terrível círculo de nascimento e
morte].(Ibid., 40).
“Saiba, Arjuna, que a
mente que tem sucesso é a mente que é concentrada. As mentes que são tomadas
por dois mil assuntos [tem] suas energias dispersadas. Alguns podem falar em
linguagem floreada e achar que não existe nada além dos Vedas. Eles querem ir
para o céu. Eles querem conseguir coisas através do poder dos Vedas , então
fazem sacrifícios.” (Gita, 41-43).
Esses não irão jamais alcançar qualquer sucesso [na vida espiritual] - a não
ser que desistam de todas essas idéias materialistas. (Ibid.,44).
Essa
é uma outra grande lição. A espiritualidade não poderá nunca ser alcançada a
não ser que se abandonem todas as idéias
materialistas. . . . O que existe nos sentidos?
Os sentidos são tudo ilusão.As pessoas desejam retê-los [nos Céus] mesmo depois de estarem mortos -um par de
olhos, um nariz. Alguns imaginam que
terão mais órgãos do que agora tem .
Eles querem ver Deus sentado em um trono por toda eternidade - o corpo
material de Deus.... Os desejos de tais
homens são pelo corpo, por comida e bebida e por diversão. É o prolongamento da vida material. Os homens
não conseguem pensar em nada além desta vida.
Essa vida é toda para o corpo. “Tal homem nunca consegue chegar à
concentração que leva à liberdade.” (Ibid.,
II. 44.).
“Os
Vedas ensinam apenas coisas pertencentes aos três Gunas, a Sattva, Rajas, e
Tamas”(Ibid., 45.). Os Vedas ensinam
apenas sobre coisas na natureza. As pessoas não pensam em nada que não vêem na
terra. Se elas falam sobre os céus, pensam em um rei sentado em um trono, em
pessoas queimando incenso. É tudo a natureza, nada além da natureza. Os Vedas,
então, não ensinam nada além da natureza . “Vá para além da natureza, além das
dualidades da existência, além de sua própria consciência, não se importe com
nada, nem com o bem nem com o mal.”(Gita,
45).
Nós nos identificamos com
nosso corpo. Nós somos apenas o
corpo, ou melhor possuidores de um
corpo. Se me beliscam, eu choro. Tudo isso é sem sentido porque eu sou a
alma. Toda essa corrente de miséria,
imaginação, animais, deuses e demônios, tudo, o próprio mundo - tudo isso vem
da nossa identificação com o corpo.” Eu
sou espírito. Porque eu dou um salto se
alguém me belisca? . . . Olhe para a escravidão nisso. Você não fica envergonhado? Nós somos religiosos! Nós somos filósofos! Nós somos sábios! Que o Senhor nos abençoe! O
que somos nós? Infernos vivos , é isso o que somos. Lunáticos, isso é o que nós somos!
Não
podemos desistir da idéia [do corpo]. Somos
ligados à terra . . Nossas idéias são cemitérios. Quando deixamos o corpo ficamos ligados por milhares de elementos a
àquelas [idéias].
Quem
pode trabalhar sem qualquer apego? Essa
é a verdadeira questão. Esse homem é o mesmo, não importa se o seu trabalho obtém sucesso ou fracasso. Seu
coração não falha, nem uma batida, mesmo se em um único momento o trabalho de
toda sua vida for transformado em cinzas.
“ Esse é o sábio - que sempre trabalha apenas pelo trabalho, sem se
preocupar com os resultados. Ele
ultrapassa a dor do nascimento e da morte. Então ele se torna livre”( Gita, II,51) . Ele percebe que esse apego é apenas ilusão. O
Self não pode nunca ser apegado. . . . Então ele ultrapassa todas as escrituras
e filosofias. (Ibid.,52) Se a mente é iludida e empurrada para dentro
de um redemoinho pelos livros e escrituras, onde está o benefício dessas
escrituras? Uma, diz isso, a outra diz
aquilo. Que livro você deve pegar? Fique sozinho! Veja a glória de sua própria alma e perceba
que você terá que trabalhar. Então você se tornará um homem de vontade firme. (Ibid., 53) ,
Arjuna
pergunta: “Quem é a pessoa de vontade
determinada?” (Ibid.,54).
[Krishna
responde: ] “O homem que abandonou todos os desejos, que não deseja nada, nem
mesmo esta vida, nem a liberdade, nem
deuses, nem trabalho, nem nada. Quando ele se tornou perfeitamente
satisfeito, ele não tem mais ansiedade
por nada.” (Ibid.,55) . Ele viu a
glória do Self e percebeu que o mundo, e os deuses, e os céus estão todos
dentro de si de seu próprio Self. Então
os deuses deixam de ser deuses; a morte deixa de ser morte; a vida deixa de ser
vida. Tudo mudou. “dizem que um homem é
[iluminado] quando sua vontade se tornou firme, se sua mente não é perturbada pela miséria, se ele não deseja qualquer
felicidade, se ele é livre de qualquer [apego], de todo medo, de toda raiva. .
. . (Gita,56)"
Assim como a tartaruga pode recolher as patas, e se você cutucá-la nenhuma delas sairá de seu casco,
da mesma maneira o sábio pode recolher os órgãos dos sentidos dentro de si
mesmo.” (Ibid., 11. 58.), e nada pode
forçá-los a sair. Nada pode perturbá-lo,
nem tentações, nem qualquer outra coisa. Deixe o universo cair sobre ele. Isso
não produzirá nenhuma marca sequer sobre a mente dele.
Então
surge uma importante questão. Algumas
vezes as pessoas jejuam por dias . Quando o pior dos homens jejuou por vinte
dias, ele se torna muito gentil. O jejum e a tortura sobre si mesmas tem sido
praticado pelas pessoas no mundo inteiro. A idéia de Krishna é de que isso tudo é bobagem.
Ele diz que os sentidos vão, se recolher no homem que tortura a si mesmo
, naquele momento, mas voltarão novamente com vinte vezes mais [poder]. . . . O
que você deveria fazer?A idéia é ser natural-sem asceticismo. Vá em frente,
trabalhe, cuide apenas para não ficar
apegado. A vontade não se fixa fortemente no homem que não aprendeu e praticou
o segredo do desapego.
Eu
saio e abro os olhos. Se alguma coisa
está lá, eu devo vê-la. Não posso impedir que isso aconteça. A mente vai atrás
dos sentidos. Os sentidos, agora, devem abandonar qualquer reação à natureza.
“Onde
é noite escura para o homem que está [preso aos sentidos], o [homem] auto-controlado, está acordado. É dia claro para ele . . . E onde o mundo está acordado o sábio dorme.“
Onde é que o mundo está acordado? Nos
sentidos. As pessoas querem comer e beber e ter filhos e então eles morrem a
morte dos cães. . . . eles estão sempre acordados para os sentidos. Até mesmo
suas religiões são apenas para isso. Eles inventam um Deus para ajudá-los, para
dar a eles mais mulheres, mais filhos, mais dinheiro - nunca um Deus para
ajudá-los a se parece com Ele! “Onde todo o mundo está acordado , o sábio
dorme. Mas onde o ignorante dorme o sábio está desperto”(Gita,II 69), - no mundo da luz, onde o homem olha para si mesmo,
não como um pássaro, ou como um animal, nem como um corpo, mas como um espírito
infinito, imortal. Ali onde o ignorante está dormindo, e não tem tempo, nem
intelecto, nem poder para entender, aí o sábio está desperto. Para ele é a luz
clara do dia.
“Assim
como todos os rios do mundo despejam suas águas no oceano, mas o oceano em sua
grande e majestosa natureza permanece imperturbável, dessa mesma forma, apesar de os sentidos
trazerem sensações da natureza, o coração do sábio como o oceano não conhece
perturbação, não conhece o medo”.
(Gita,II.70). Deixe que a miséria
chegue em milhões de rios e a felicidade em centenas deles! Eu não sou escravo
da miséria! Eu não sou escravo da felicidade.
Complete Works, Vol I. 459-66)
O Gita III
(Realizada
em São Francisco em 29 de maio de 1900)
Arjuna
pergunta: Você aconselhou ação mas você
ainda sustenta o conhecimento de Brahman
como a mais elevada forma de vida. Krishna, se você acha que o conhecimento é
melhor do que ação, porque você me diz para agir?” (Gita. III.1)
[Sri
Krishna]: “Esses dois sistemas vieram dos tempos antigos para nós. Os filósofos Sankhya avançam na teoria do
conhecimento. O Yogis avançam na teoria
do trabalho. Mas ninguém pode alcançar à
paz renunciando às ações. Ninguém nesta
vida pode parar sua atividade, nem mesmo por um momento. As qualidades da natureza [Gunas] vão fazer
ele agir. Aquele que paralisa suas
atividades e ao mesmo tempo está ainda pensando nelas não chega a nada; ele apenas se torna
hipócrita. Mas aquele que através do poder de sua mente gradualmente coloca
seus órgãos dos sentidos sob controle
empregando-os no trabalho, aquele homem é melhor. Então, trabalhe. (Ibid., 3-8.)
“Mesmo
se você conheceu o segredo de que não
tem deveres, de que é livre, ainda assim
você deve trabalhar para o bem dos outros. Porque qualquer coisa que um grande
homem faz, a pessoa comum também fará. Se um grande homem, que já alcançou a
paz da mente e a liberdade cessa de
trabalhar, logo todos aqueles que não possuem esse conhecimento e paz tentarão
imitá-lo, e então surgirá a confusão.
“Veja
, Arjuna, não existe nada que eu não possua e nada que eu queira adquirir . E
eu continuo ainda a trabalhar. Se eu
parasse de trabalhar por um momento, o universo inteiro [seria destruído]. (Ibid,22-24) .Aquilo que o ignorante faz
com o desejo pelos resultados e pelos ganhos, deixe que o sábio faça sem nenhum
apego e sem qualquer desejo pelos resultados e ganhos.”(Ibid.,25)
Mesmo
que você tenha o conhecimento, não perturbe a fé infantil do ignorante. Por outro lado, desça até o nível dele e
gradualmente traga-o para o alto.(
Ibid.,26-29). Essa é uma idéia muito poderosa, e se tornou um
ideal Índia. Essa é a razão pela qual você pode ver um
grande filósofo indo para um templo para adorar imagens. Isso não é hipocrisia.
Mais
tarde, lemos o que Krishna diz, “Mesmo aqueles que adoram outras deidades estão
verdadeiramente adorando a Mim”. (Ibid.,
IX. 23.). É a Deus encarnado que o homem está adorando.
Será
que Deus ficaria irado se você O chamasse pelo nome errado? Deixaria Ele de ser
Deus afinal! Você não consegue entender
que o que quer que o homem tenha em seu
próprio coração é Deus- mesmo se ele adora uma pedra? E daí !
Nós entenderemos mais claramente se nos livrarmos
de uma vez por todas da idéia de que a religião consiste de doutrinas. Uma idéia de religião tem sido a de que o
mundo inteiro nasceu por que Adão comeu a maçã, e não existe escapatória. Acredite em Jesus Cristo - na morte de um
certo homem! Mas na Índia existe uma
idéia bem diferente . [Lá] a religião
significa realização, nada mais. Não
importa a forma pela qual alguém se aproxima do destino, em uma carruagem de
quatro cavalos, em um carro elétrico ou rolando pelo chão. O objetivo é o
mesmo. Para os [Cristãos] o problema é
como escapar da ira do terrível Deus.
Para os Hindus é como se tornarem o que realmente são, recuperar sua própria Identidade perdida . . . .
Você
percebeu que é um espírito? Quando você
diz, “Eu “, o que isso significa? Essa
porção de carne chamada corpo, ou o espírito, o infinito, sempre abençoado,
efulgente, imortal? Você pode ser o
maior filósofo do mundo, mas enquanto mantiver a idéia de que é o corpo, você
não é melhor do que o pequeno verme que se arrasta sob os seus pés! Não existe desculpa para você! Pior para você se você conhece todas as filosofias e ao
mesmo tempo acha que você é o corpo!
Deuses do corpo, isso é o que vocês são! Isso é religião?
A
religião é a percepção do espírito como espírito. O que estamos fazendo agora?
Exatamente o oposto, percebendo o espírito como matéria. De Deus imortal nós
fabricamos a morte e a matéria, e da matéria morta nós fabricamos o espírito. .
. .
Se
você [pode realizar Brahman] permanecendo em sua cabeça ou em um pé ou
adorando cinco mil deuses com três
cabeças cada um - seja Benvindo! . . . Faça isso da forma como puder. Ninguém
tem o direito de dizer nada a respeito disso. Entretanto Krishna diz, se seu
método é melhor e mais elevado,não é da sua conta dizer que o método de um
outro homem é não é bom , não importa o quanto você o considere ruim.
Novamente
devemos considerar, a religião é [ uma questão de] amadurecimento, não uma
coleção de palavras tolas. Há dois mil anos atrás um homem viu Deus. Moisés viu
Deus em um arbusto em fogo.
Aquilo
que Moisés fez quando viu Deus, salva você? O fato de algum homem ver Deus não pode ajudar você nem um pouco, a não
ser que isso possa incentivar você a
fazer a mesma coisa. Esse é o valor dos exemplos antigos. Nada mais. [Apenas] a
sinalização no caminho. Nenhum homem comendo pode satisfazer o apetite de outro
homem. Nenhum homem vendo Deus pode salvar um outro homem. Você mesmo tem que
ver Deus. Todas essas pessoas brigando sobre qual é natureza de Deus - se ele tem três cabeças em
um só corpo, ou cinco cabeças em seis corpos. Você já viu Deus? Não. . . E eles
acreditam que jamais vão vê- Lo. Que tolos somos nós os mortais ! Certamente. Lunáticos!
[Na
Índia] se tornou uma tradição que, se existe um Deus,ele deve ser o seu Deus e
o meu Deus. A quem pertence o sol!. Você diz que o tio Sam é tio de todo mundo.
Se existe um Deus, você deve ser capaz de vê-Lo. Se não deixe-O ir.
Cada
um acha que seu método é o melhor. Muito bem Mas lembre-se, pode ser bom para
você. Uma comida que é muito pesada para uns é de digestão muito fácil para
outros.Por ser bom para você não chegue logo à conclusão que o seu método é o
método de todo mundo, que o casaco de Jack serve para John e para Mary. Todos
os homens e mulheres sem nenhuma educação, sem cultura e sem capacidade de
pensar foram colocados nessa espécie de camisa de força! Pensem por si mesmos.
Tornem-se ateístas! Tornem-se materialistas! Isso seria melhor. Exercitem a mente!
. . . Que direito você tem de dizer que o método deste homem é errado? Pode
estar errado para você. Isso quer dizer, se você usar esse método você ficará
diminuído, mas isso não quer dizer que ele será diminuído. Entretanto, diz
Krishna. Se você tem o conhecimento e vê um homem fraco, não o condene. Vá até
o nível dele e ajude-o se puder. Ele deve crescer. Você pode colocar cinco
punhados de conhecimento dentro da cabeça dele em cinco horas.Mas de que
servirá isso? Ele ficará um pouco pior do que antes.
De
onde vem toda essa escravidão da ação? Vem do fato de que acorrentamos a alma
com a ação. De acordo com nosso sistema Indiano, há duas existências; a
natureza de um lado e o Self, o Atman do outro. A palavra natureza significa
não apenas o mundo externo mas também nossos corpos, a mente, a vontade , até
mesmo para o que diz “Eu”. Muito além de
tudo isso está a infinita vida e luz da alma - o Self, o Atman. . . . de acordo
com essa filosofia, o Self é
inteiramente separado da natureza, sempre foi e sempre será. . . . Nunca houve
um tempo em que o espírito pudesse ser identificado nem mesmo com a mente. . .
Está
muito claro que a comida que você ingere está fabricando a mente todo o
tempo. Isso é a matéria. O Self
está acima de qualquer ligação com a comida. Se você comer ou não, isto não importa. Se você pensar ou não. . . não importa. Ele é infinita luz. A sua luz é a mesma sempre. Se você colocar
um vidro azul ou verde [na frente de uma luz], o que isso tem a ver com a
luz? A cor da luz é imutável. É a mente que muda e dá as diferentes
cores. No momento em que o espírito
deixa o corpo, a coisa toda se desfaz em pedaços.
A
realidade em sua natureza é espírito. A
própria realidade -a luz do espírito -
se move e fala e faz tudo [através de nossos corpos, mentes, etc. .] . É a
energia e a alma e a vida do espírito que está sendo trabalhada em diferentes
maneiras pela matéria. . . . O espírito é a
causa dos pensamentos, das ações dos nossos corpos e tudo o mais. Ele é
intocável pelo bem ou pelo mal, prazer ou dor, calor ou frio e por todos os dualismos da natureza apesar de
emprestar sua luz para tudo. “Conseqüentemente, Arjuna, todas essas ações estão
na natureza. A natureza . . . está executando suas próprias leis em nossos
corpos e mentes . Nós nos identificamos
com a natureza e dizemos, Eu estou fazendo isto”. Dessa forma a ilusão toma
conta de nós. (Gita,III.27) .
Nós
sempre agimos sob a influência de alguma compulsão. Quando a fome me compele,
eu como. E o sofrimento é ainda uma escravidão maior. O “Eu ”real é eternamente livre. O que é que pode compelí-lo a fazer alguma
coisa? O sofrimento está na natureza. É apenas quando nos identificamos com o corpo
que dizemos, “Eu estou sofrendo. Eu sou o Sr. Fulano de Tal - e todas essas
tolices. Mas aquele que conheceu a verdade, se mantém indiferente. O que quer que seu corpo faça, o que quer que
sua mente faça , ele não se importa. Mas
preste atenção, a vasta maioria da humanidade está sob a influência dessa
ilusão; e sempre que fazem alguma coisa boa. Eles acham que são os, [que fazem]. Eles não são capazes ainda de
entender as filosofias mais elevadas.
Não perturbem sua fé ! Esses estão se
afastando do mal e fazendo o bem. Grande
idéia! Deixe-os pensar assim ... eles
são os trabalhadores do bem. Gradualmente
eles irão achar que existe glória maior do que aquela de fazer o bem. Eles irão apenas testemunhar, e as coisas
estarão feitas. . . . Gradualmente eles irão entender. Quando eles tiverem afastado todo o mal e
feito todo o bem, então eles começarão a perceber que estão além de toda
natureza.
Eles
não são os que executam. Eles ficam [de
lado]. Eles são. . . testemunhas. Eles simplesmente param e olham. A natureza
está gerando todo o universo. . . . eles
viram suas costas. “No início, Oh bem amado, havia apenas aquela
Existência. Nada mais existia. E Daquele[pensamento],tudo o mais foi criado”(Chhandogya,VI.ii.2-3)
“Mesmo
aqueles que conhecem o caminho agem impelidos por sua própria natureza. Todo mundo age de acordo com sua natureza.
Ele não pode transcendê-la. O átomo não
pode desobedecer a lei. Seja ele o átomo
mental ou físico, ele deve obedecer a lei.
“Qual é a utilidade do [controle externo]?(Gita,III.33). O que é que
valoriza qualquer coisa na vida? Não são
os divertimentos, nem as possessões. Analise tudo. Você vai descobrir que, para
nos ensinar alguma coisa, não existe valor exceto na experiência. E em muitos casos, são nossas dificuldades,
mais que as nossas alegrias que nos dão
melhores experiências. Muitas vezes as calamidades nos dão melhores
experiências do que as carícias da natureza. . . . .Até a fome tem seu lugar e
seu valor. .
De
acordo com Krishna, nós não somos seres
novos, que acabaram de entrar na existência.
Nossas mentes não são novas mentes. . . . Nos tempos modernos sabemos
que toda criança traz [com ela] todo o
passado, não apenas da humanidade, mas também o mapa da vida . Estão ali todos os capítulos passados, e esse
capítulo presente, e uma grande quantidade de capítulos futuros
diante dela. Todo mundo tem seu caminho
mapeado, desenhado e planejado para si ,
e apesar de toda essa escuridão, não pode haver uma única coisa sem
causa - nenhum evento, nenhuma circunstância. . . . É apenas nossa
ignorância. Os elos da inteira e
infinita corrente das causas estão ligados uns aos outros pela natureza. O universo inteiro está ligado por esse tipo
de corrente. É a universal [cadeia da] causa e efeito, você recebendo um elo, eu um outro. . . . E
essa [partel é nossa própria natureza.
Agora
Sri Krishna diz: “Melhor morrer em seu próprio caminho do que tentar o caminho
de outro.”( Gita III,35) . Esse é o
meu caminho, e eu estou aqui. E você
está ali mais acima, e eu me sinto sempre tentado a desistir do meu caminho
pensando em ir até o seu e ficar com você. E se eu vou, eu não estarei nem aqui nem
lá. Não devemos perder de vista essa
doutrina. Tudo é [uma questão de]
crescimento. Espere e cresça e você
alcançará tudo; de outra forma haverá
[grande perigo espiritual].Aqui reside o segredo fundamental de ensinar
religião.
O
que você quer dizer com”salvar pessoas” e todos acreditando em uma mesma
doutrina? Isso não pode ser. Existem as
idéias gerais que podem ser ensinadas para a humanidade. O verdadeiro mestre
será capaz de encontrar em você qual é a
sua verdadeira natureza. Talvez você não saiba qual é . É possível que o que
você acha que é a sua natureza esteja completamente errado.
Isso não se desenvolveu na consciência.
O mestre é a pessoa que deve saber. . . . Ele deve saber, através de um
simples olhar em seu rosto, e colocar você em [seu caminho]. Nós queremos sentir e nos esforçamos aqui e
ali e fazemos todo tipo de coisas e não
fazemos nenhum progresso até o momento em que caímos naquela corrente da vida e
somos carregados. O sinal é que no momento em que estivermos naquela
corrente , iremos flutuar. Aí então não
há mais luta. Isso é para ser percebido. É preferível então morrer naquele
[caminho] do que desistir e pegar um outro.
Ao
invés disso , começamos uma religião e construímos uma coleção de dogmas e
traímos o objetivo da humanidade e
tratamos todas as pessoas [como se tivessem] a mesma natureza. Não existem duas
pessoas que tenham a mesma mente e o mesmo corpo. . . . Nem duas pessoas tem a
mesma religião. . . .
Se
você quer ser religioso, não entre pelos portões de nenhuma religião
organizada. Eles fazem centenas de vezes mais mal do que bem, porque eles
paralisam o crescimento e desenvolvimento individual . Estude tudo, mas
mantenha firme a sua própria base. Se
você aceita meu conselho,não ponha sua cabeça na armadilha . No momento em que
eles tentarem colocar o nariz sobre você, tire seu pescoço da linha e vá para
outro lugar . [Assim como] a abelha, recolhe o o mel de muitas flores, e permanece livre,,não acorrentada a nenhuma
flor, não seja audacioso. . . . Não entre pelas portas de nenhuma religião
organizada [Religião] é apenas entre
você e seu Deus, e nenhuma terceira pessoa deve ficar entre vocês. Pense no que essas religiões organizadas já
fizeram ! Que Napoleão foi mais terrível
do que essas perseguições religiosas? . . . Se você e eu nos organizamos,
começamos a odiar cada pessoa. É melhor não amar se isso significar odiar os
outros. Isso não é amor. Isso é o
inferno. Se amar os seus significa odiar qualquer outra pessoa, isso é a
quintessência do egoísmo e da brutalidade, e o efeito é que isso vai torná-los
brutos. Portanto, é melhor morrer exercitando sua religião natural do que seguir a religião natural de outra
pessoa, não importa o quão maravilhosa ela possa parecer a você. (GitaIII.35)
“Esteja atento, Arjuna, luxúria e ira são os grandes inimigos.
Esses tem que ser controlados. Esses escondem o conhecimento mesmo daqueles que
[são sábios]. Esse fogo da luxúria não
pode ser extinguido. Ele se localiza nos
órgãos dos sentidos e na mente. O Self não deseja nada. (Ibid., III. 37, 40)
“Esse Yoga
eu ensinei nos tempos antigos [para Vivaswan; Vivaswan ensinou para Manul. . .
. Conseqüentemente esse foi o
conhecimento passando de um rei para outro. Mas num certo tempo esse grande Yoga foi destruído. Essa é a razão
pela qual eu o estou contando para vocês hoje novamente.”(Ibid., IV. 1-3)
Então
Arjuna pergunta, “Porque você fala dessa
forma? Você é um homem que nasceu apenas outro dia e, [Vivaswan nasceu muito antes que você]. O que significa você dizer que o ensinou?”(Gita, IV. 4.)
Então
Krishna diz, “Oh Arjuna, eu e você passamos pelo ciclo de nascimentos e mortes
muitas vezes, mas você não tem nenhuma consciência deles. Eu não tenho começo,
não tenho nascimento, o absoluto Senhor de toda criação. Eu adquiro forma
através de minha própria natureza. Sempre que a virtude se enfraquece e o mal
prevalece, Eu venho para ajudar a humanidade. Pela salvação do bem e pela destruição
do mal, pelo estabelecimento da espiritualidade Eu venho de tempos em
tempos. Qualquer um que quiser me
alcançar, por qualquer que seja o caminho, Eu chegarei até ele. Mas saiba, Arjuna, ninguém pode jamais se desviar do meu
caminho.” Nunca ninguém fez isso. Como
podemos nós? Ninguém se desvia do Seu
caminho.(Ibid., IV. 5-8, 11).
.
. . Todas as sociedades são baseadas sobre a má generalização. A lei só pode
ser construída sobre a perfeita generalização. O que é o velho dito
popular: Toda lei tem sua exceção?. . .
Se existe uma lei, ela não pode ser quebrada. Ninguém pode quebrá-la. A maçã
quebra a lei da gravidade? No momento em que uma lei é quebrada, não existe
mais universo. Haverá um momento em que
você quebrará a lei, e naquele momento sua consciência, mente,e corpo irão se
dissolver.
Existe
ali um homem que está roubando. O que
ele rouba? Você o pune. Porque você não
abre um espaço e coloca a energia dele
para trabalhar? . . . Você diz, “Você é um pecador”, e muitos irão dizer que
ele burlou a lei. Todo o rebanho da
humanidade é forçado [para dentro da uniformidade] e para todo esse problema,
pecado e fraqueza. . . . O mundo não é
tão mau como você pensa. Somos nós, os
tolos, que o tornamos mau.. Nós produzimos nossos próprios fantasmas e
demônios, e então . . . . não podemos nos livrar deles. Colocamos as mãos sobre nossos olhos e gritamos: “Alguém nos dê luz!”
Seus tolos, Eu tiro suas mãos de seus olhos!
Isso é tudo. Pedimos aos deuses
para nos salvar, mas ninguém culpa a si mesmo. É aí que está a pena de tudo isso. Porque
existe tantã maldade na sociedade ? E o
que é que eles dizem? A carne , o demônio e a mulher. Porque tornar essas coisas
[importantes]? Ninguém pede para tornar
essas coisa [importantes]. “Ninguém, O Arjuna, pode se desviar do meu caminho.
“(Gita, IV. 11.) . Nós somos tolos e nossos caminhos são mais
tolos ainda. Temos que passar por toda essa Maya. Deus fez o céu e o homem
construiu o inferno para si mesmo.
"”Nenhuma
ação pode me atingir”. Eu não tenho
nenhum desejo pelo resultado dessas ações.
Quem quer que me conheça sabe então o segredo e não fica limitado pela
ação. Os antigos sábios conhecendo esse
segredo, ( puderam se engajar na ação de
forma segura]. Faça seu trabalho da
mesma forma. ( Gita, IV 14-15). “Aquele
que enxerga em meio à intensa atividade a intensa calma, e que no meio da
intensa paz é intensamente ativo [ é realmente um sábio]”. . . . (Ibid,18). Essa é a questão. Com cada um
dos sentidos e cada um dos órgãos ativos , você consegue ter aquela tremenda
paz [que] nada pode perturbar? No meio
da Market Street, esperando pelo carro, com todo aquele trânsito . . . . ao seu
redor, você consegue ficar em estado de meditação, calmo e em paz? Na caverna, você consegue estar intensamente
ativo com toda aquela quietude ao seu redor? Se consegue, você é um verdadeiro
Yogi, se não consegue, não é.
“[
Os profetas o chamam de sábio ] aquele cuja tentativa é livre, sem nenhum
desejo por ganhos, sem nenhum egoísmo.”(Ibid.,
IV. 19). A verdade jamais pode
chegar até nós enquanto formos egoístas.
Nós colorimos todas as coisas com o nosso própria personalidade. As
coisas chegam até nós como são verdadeiramente.
Não que elas estejam escondidas, de jeito nenhum! Nós as escondemos. Nós possuímos o pincel. Uma coisa chega, e nós não gostamos dela,
então nós a pintamos um pouco e depois olhamos para ela. . . . Nós não queremos
saber. Nós pintamos tudo com nosso
próprio eu . Em todas as nossas ações a força motora é o egoísmo. Tudo é
escondido por nós mesmos. Nós somos como
o bicho da seda que tira o fio de seu próprio corpo e com ele constrói o casulo, e veja, aí ele fica preso. Com seu
próprio trabalho ele aprisiona a si mesmo.
Isso é o que nós estamos fazendo.
No momento em que digo “mim” o fio se entrelaça uma vez, quando
digo “Eu e meu “, o fio se entrelaça
mais uma vez. E assim vai. . . .
Não
podemos ficar sem nem por um momento sem a ação. Aja! Mas da mesma forma como quando seu vizinho
pede “Venha me ajudar! ” tenha exatamente a mesma idéia quando você está
ajudando a si mesmo. Nada mais que isso. O seu corpo não tem maior valor do que
o corpo de John. Não faça nada a mais
pelo seu corpo do que você faz pelo corpo de
John. Isso é religião.
“Aquele
cujos esforços estão desprovidos de qualquer desejo e egoísmo, conseguiu
queimar todas suas ligações com a ação no
fogo do conhecimento. Ele é sábio.
(Gita, IV. 19).
A
leitura de livros não pode conseguir isso.
O burro pode carregar uma
biblioteca inteira: de maneira nenhuma
isso o torna,culto. Qual é a utilidade de se ler tantos livros? “Abandonando todo o apego ao trabalho, sempre
satisfeito e nunca esperando por ganhos, o homem sábio age mas está além da
ação. . . . (Ibid,IV.19).
Nu
eu saí do ventre de minha mãe e nu eu irei retornar. Indefeso eu vim e indefeso eu partirei . Indefeso eu estou agora. E nós não
conhecemos [o objetivo]. É terrível para nós pensarmos sobre isso.
Temos idéias tão estranhas! Vamos até um
médium para ver se o espírito pode nos ajudar. Pense na fragilidade! Espíritos,
demônios, deuses, qualquer um - venham!
E todos os sacerdotes, todos os charlatães! Esse é exatamente o momento em que eles tomam
conta de nós, no momento em que estamos fracos. Então eles trazem todos os deuses.
Eu
vejo em meu país, um homem se torna forte, educado, um filósofo e diz, “Toda
essa tolice de orações e banhos”. . . . O pai desse homem morre, e a mãe dele
morre, esse é o mais terrível choque que um Hindu pode sofrer. Você vai
encontrá-lo se banhando em todas as lagoas sujas, indo a todos os templos,
lambendo a poeira . . . . Alguém me ajude!
Mas nós somos indefesos. Não vem
ajuda de ninguém. Essa é a verdade. Tem existido mais deuses do que seres
humanos, e ainda assim nenhuma ajuda.
Morremos como cães - nenhuma
ajuda. Em todos os lugares a
bestialidade, a fome, doenças, a miséria, a maldade! E todos estão pedindo por socorro. Mas não há
socorro. E ainda, esperando contra a esperança, estamos mesmo assim gritando por socorro. Oh, a condição miserável! Oh, o terror disso! Olhe para dentro de seu
próprio coração! A metade do [problema] não é nossa culpa, ma é culpa de nossos pais. Nascidos já com essa
fraqueza, mais e mais dela foi colocada
dentro de nossas cabeças. Passo a
passo ultrapassaremos tudo isso.
É
um tremendo erro se sentir indefeso. Não
procure ajuda em ninguém. Nós somos nossa própria ajuda. Se não podemos nos
ajudar a nós mesmos não existe ninguém que possa fazê-lo. . . . “Você mesmo é o
seu único amigo, você mesmo é o seu único inimigo. Não existe outro inimigo além de mim mesmo,
nenhum outro amigo além de mim mesmo.”(Gita.,
VI. 5). Essa é a ultima e maior lição, e quanto tempo levamos para
aprendê-la! Parecemos estar nos dando
conta disso e, no momento seguinte, a velha onda nos atinge novamente. A coluna vertebral se quebra. Nós nos
enfraquecemos e novamente tentamos buscar aquela superstição e aquela ajuda.
Pense apenas naquela imensa massa de miséria, e tudo causado por essa falsa
idéia de ir procurar ajuda.
O
sacerdote diz suas palavras rotineiras e possivelmente espera por alguma
coisa. Sessenta mil pessoas olham para o
céu e rezam e pagam ao sacerdote. Mês após mês eles ainda olham, ainda pagam e
rezam. . . . Pense nisso! Isso não é ser lunático? O que mais pode ser? Quem é o responsável? Você pode pregar religião, mas para excitar
as mentes de crianças não desenvolvidas. . . !
Você terá que sofrer por isso. No
fundo do seu coração, o que é você ? Por
cada um dos pensamentos debilitantes que você
colocou na cabeça de alguém, você terá que pagar com altos juros. A lei do Karma deve ter a sua grama de carne. . . .
Existe
apenas um pecado. Esse é a
fraqueza. Quando eu era um garoto eu li
o Paraíso Perdido de Mílton . O
único homem bom pelo qual eu tive algum respeito foi Satan. O único santo é aquele cuja alma que nunca enfraquece, enfrenta
tudo e determina o jogo da
morte. . . . Levante-se e jogue até morrer! . . . . Não some um lunatismo a
outro. Não adicione sua fraqueza ao mal
que está por vir. Isso é tudo que eu tenho a dizer ao mundo. Sejam fortes! . . .Vocês falam de espíritos e
demônios. Nós somos os demônios vivos. O sinal da vida é força e
crescimento. O sinal da morte é a
fraqueza. Tudo que é fraco, evite.! Isso
é a morte. Se é força, vá até o inferno
e tome posse dela! A salvação só existe para os corajosos. Ninguém além dos corajosos merecem o que é
justo.” Ninguém, além dos mais corajosos
merecem a salvação. Qual inferno? Qual tortura? Qual pecado? Qual
fraqueza? Qual morte? Qual enfermidade?
Você
acredita no verdadeiro Deus. "Você
é o homem, você a mulher, você o jovem caminhando com a força da juventude . .
. você o homem velho cambaleando, apoiado em sua bengala” (Shvetashvatara, IV. 3.). Você é a fraqueza. Você é o medo. Você é o céu, e você é o inferno. Você é a
serpente que vai ferir. Venha você como
o medo! Venha você como a morte! Venha
como a miséria! . . .
Toda
a fraqueza, toda a servidão é
imaginação. Diga uma só palavra
e ela desaparecerá. Não esmoreça!
Não existe outro caminho.... Levante-se e seja forte! Sem medo! Sem superstição. Enfrente a verdade como ela é! Se a morte vier - e essa é a pior de nossas
misérias - deixe que ela venha! Nós
estamos determinados a morrer
jogando. Essa é toda a religião que eu
conheço. Eu não a alcancei ainda, mas estou lutando para isso. Eu posso não
conseguir , mas talvez você possa. Vá em frente!
“Onde
um vê o outro, um escuta o outro, desde que existam dois” deve existir medo, e
o medo é mãe de todas as [misérias].
Onde ninguém vê o outro, onde
tudo é Um, não existe ninguém para ser miserável, ninguém para ser infeliz. [Chhandogya,VII.xxiii-xxiv] (adapted)]. [Existe apenas um] O Um sem segundo. Então não tenha medo. Acorde, levante-se e
não pare até que o objetivo seja alcançado!
O
Trabalho Sem Motivo
Quando o
Gita foi pregado pela primeira
vez, estava ocorrendo naquele momento, uma grande controvérsia entre duas
seitas. Uma delas considerava os Vedic
Yajnas, o sacrifício de animais e tais Karmas , o todo da religião. A outra
pregava que a matança de inúmeros cavalos e de gado não podia ser chamada de
religião. As pessoas pertencentes a essa
última eram na maioria Sanyasins e
seguidores do jnana. Eles acreditavam
que o abandono de todo o trabalho e o ganhar conhecimento do Self era o único caminho para o Moksha. Pregando Sua
grande doutrina do trabalho sem motivo, o autor do Gita colocou um ponto
final nas disputas entre essas duas
seitas antagônicas.
Muitos
são da opinião de que o Gita não foi
escrito nos tempos do Mahabharata, mas
foi posteriormente adicionado a ele.
Isso não está correto. Os
ensinamentos especiais do Gita podem ser encontrados em todas as partes do
Mahabharata, e se o Gita for retirado, como não fazendo parte dele, todas as
outras partes que incorporam os mesmos ensinamentos devem ser tratados da mesma
forma.
Agora,
qual é o significado de trabalhar sem motivo? Hoje em dia muitos entendem isso
como alguém que trabalha de uma forma
tal que nem o prazer nem a dor atingem
sua mente . Se esse for o verdadeiro significado, então os animais devem ser
pagos para trabalhar sem motivo. Alguns
animais devoram sua própria cria, e não sentem nenhuma dor ao fazer isso.
Assaltantes arruínam a vida de outras pessoas, roubando seus bens, mas se eles
se sentem indiferentes ao prazer e à dor, então eles também deveriam estar
trabalhando sem motivo. Se esse fosse o significado, então aquele que tem o
coração de pedra, o pior dos criminosos, poderia ser considerado como estar trabalhando sem motivo. As paredes não tem sentimentos de prazer ou
dor, nem tampouco os tem a pedra e não
se pode dizer que eles trabalham sem motivo.
No sentido acima a doutrina é um instrumento potente nas mãos dos
maus. Eles continuarão a fazer coisas más e irão se pronunciar como sendo pessoas
que trabalham sem motivo. Se esse fosse o significado de trabalhar sem motivo,
então uma doutrina teria sido criada
pela pregação do Gita. Certamente esse
não é o significado. Além disso se olharmos para as vidas daqueles que estão
ligados à pregação do Gita, vamos
descobrir que eles vivem uma vida bem diferente. Arjuna matou Bhishma e Drona
na batalha, mas também sacrificou todos os interesses próprios, seus desejos e
seu ego milhões de vezes.
O
Gita ensina o Karma-Yoga. Devemos
trabalhar através do Yoga (concentração).
Com tal concentração em ação, não existe presente a consciência do ego
mais inferior. A consciência de que eu estou fazendo isto ou aquilo nunca está
presente quando se trabalha através do Yoga.
As pessoas do ocidente não compreendem isso. Eles dizem que se não
houver consciência do ego, se esse ego se foi, como pode o homem então trabalhar? Mas quando se trabalha com concentração,
perdendo toda a consciência de si mesmo, o trabalho que é feito será
infinitamente melhor , e isso todos devem ter experimentado em sua própria
vida. Executamos muitos trabalhos de
forma subconsciente, como a digestão da comida etc., muitos outros com
consciência, e outros ainda estando
imersos em Samadhi , assim como acontece
quando não existe consciência do ego inferior. Se um pintor, perdendo
consciência de seu ego, se tornar completamente imerso em sua pintura, ele será
capaz de produzir obras primas. O
cozinheiro concentra seu inteiro self
nos alimentos com os quais lida; ele perde qualquer outra consciência
durante todo esse período. Mas dessa
forma eles são capazes de realizar apenas um trabalho de forma perfeita, com o
que eles estão habituados. O Gita ensina
que todos os trabalhos deveriam ser realizados dessa forma. Aquele que está unido ao Senhor através do
Yoga executa todos os seus trabalhos ficando imerso em concentração e não busca
nenhum benefício pessoal. Tal
performance de trabalho só traz benefício ao mundo, nenhum mal pode vir
dele. Então, aqueles que trabalham, não
podem nunca fazer alguma coisa para eles mesmos.
O
resultado de cada trabalho está envolvido com o bem e com o mal. Não existe um bom trabalho que não possua em
si um toque do mal . Como a fumaça que
sai do fogo, algum mal sempre está atado ao trabalho. Devemos nos engajar em
tais trabalhos para trazer a maior quantidade do bem e a menor medida do mal
. Arjuna matou Bhishma e Drona; se isso não tivesse sido feito
Duryodhana não poderia ter sido
conquistado, e as forças do mal teriam triunfado sobre as forças do bem , e
então uma grande calamidade teria se abatido sobre o país. O governo do país
teria sido usurpado por um grupo de reis orgulhosos e incorretos, para a grande
infelicidade do povo. De forma semelhante Sri Krishna matou Kamsa, Jarasandha, e outros que eram
tiranos, mas nenhum de seus atos foram feitos para si mesmo. Cada um deles foi
executado para o bem dos outros. Estamos
lendo o Gita à luz de velas, mas muitos
insetos estão sendo queimados até a morte.
Então , parece que algum mal está ligado ao trabalho. Aqueles que trabalham sem consciência de seu
ego inferior não são afetados pelo mal, pois eles trabalham pelo bem do
mundo. O trabalho sem motivo, o trabalho
desapegado, traz a mais alta felicidade e liberdade. Esse segredo do Karma-Yoga
é ensinado pelo Senhor Sri Krishna no
Gita.
(Complete Works Vol 1. V. 246-49)
Nós faça algum bem em algum lugar ; não existe qualquer
trabalho que não cause algum mal em algum lugar. Todo trabalho tem
necessariamente que ser uma mistura de bem e de mal; e ainda somos ordenados a trabalhar incessantemente Tanto o bem quanto o mal, ambos tem o seu
resultado, irão produzir o seu Karma.
“Boas ações garantirão sobre nós bons
efeitos ; mas ações, maus efeitos. Mas o
bem e o mal são ambos a escravidão da alma . A solução alcançada no Gita em
relação a essa natureza geradora de escravidão é que se não nos apegarmos ao
trabalho que fazemos, ele não terá efeito aprisionador sobre nossa alma
(Complete Works V.I 53)
Essa é a causa da miséria; nós somos apegados; estamos sendo aprisionados. Então, diz o
Gita: Trabalhe constantemente; trabalhe mas não seja apegado; não seja
aprisionado. Reserve em você o poder de se desapegar de todas as coisas, não
importa o quanto elas sejam amadas , não importa o quanto a alma anseie por
elas, não importa a intensidade da dor
que você sinta, provocada pela miséria de abandonar essas coisas ; ainda
assim reserve o poder deixá-las no
momento em que você quiser.
(Complete WorksVol II.2-3)